Não entrar em “incumprimento ou default” é o grande objetivo do Governo de Passos Coelho e este é um ponto fundamental da credibilidade nacional e esta é o pilar dos empréstimos que temos de mendigar depois do fragor das Governações após 1987. Um saloio boquiaberto resolveu encher Portugal das modernidades que suas viagens pela Europa lhe ofereciam. O saloio desconhecia que o crédito era para pagar, desconhecia que os empréstimos são créditos e portanto são para devolver. O rústico decidiu fazer um palácio e ter elevadores para os três pisos, e aquecimento central e piscinas dentro de casa, e LCDs e Blue Rays, e umas lombadas de livros e umas paredes com quadros que trouxe de galerias em Paris.
O saloio pagou principescamente aos primos e aos amigos chegados, criou comboios (mesmo que trabalhassem o anos inteiro sem passageiros), pontes (mesmo que não tivessem acessos), auto-estradas (mesmo onde não havia gente), hospitais (sem população alvo), segurança social para todos e cada vez mais dádivas em saúde, segurança, espetáculos (mesmo se lá não fosse ninguém), zonas desportivas (mesmo que para apenas um jogo por ano). Foi fartar vilanagem, até que alguém lhe bateu à porta e disse: ora dá pra cá os 85 mil milhões que já gastaste. Ora vê lá se me pagas e te deixas de conversa fiada. O Dr. Passos Coelho atendeu o credor envergonhado. Era filho do grande saloio e tinha de lhe arcar com as dívidas. Homem de bons princípios percebeu que aquele homem era afinal quem tinha mantido toda aquela vida faustosa e deslumbrada. Trabalhava 12 meses e recebia 14, conseguia uns números extra para moldar o valor do salário, quase sempre em sistemas parasitas do Estado que já lhe dava os 14 meses por 12. Pedro Passos Coelho sabe que um melhor salário 12 meses é melhor que um fraco salário 14 ou 20 vezes.
Decidiu o filho pagar as dívidas do pai e estamos agora neste pé. Um incumprimento seria o fim do dinheiro europeu e por essa razão deixávamos de receber simplesmente. Sem dinheiro no Estado era o fim da Europa e o fim dos salários da Função Pública e pronto. Hoje esta evidência é tão crua e clara que temos pela primeira vez alguém que não se inibe de confessar os erros, que corrige a mão, que explica as medidas duras sem inventar cenários de fadas. É um tempo que se adivinhava em 2001 com os excessos e os planos milionários que obrigavam a manutenção. Todos os projetos que não se sustentam a si próprios causam deficit a prazo. Por essa razão é fundamental encerrar capítulos, mudar protagonistas, acabar com elefantes brancos. Os teatros municipais (com prejuízos de milhão e salários de 150 mil/ano), as piscinas públicas a rodos (com custos de água e luz de centenas de milhares de euros), os campos do euro futebol, os negócios entre Municípios e seus familiares e empresas públicas municipais de difícil entendimento, as marinas sem barcos, os refeitórios públicos a custo inferior ao dos ingredientes, as estradas onde não andam carros, tudo isso é para encerrar ou redefinir.
Tudo está em causa quando um gestor se pagava a si mesmo 730 mil euros/ano no hospital de Faro. Tudo está em causa quando se juntaram dezenas a construir um Pediátrico de 250 camas e só conseguiram inaugurar 90. Estamos a corrigir a obstipação e os parasitas nela se multiplicando com alguns litros de purgante. Portugal vive a purga que se esperava há muito e tem a noção de que ela é para todos. Protesta Cavaco, as IPSS, as Fundações, os milhares que comiam da panela do Estado que dominavam a seu belo prazer, as famílias que dividiam entre si subvenções, prémios, contratos milionários. Eu compreendo que estejamos em choque mas também percebo que este é o melhor primeiro-ministro que chegou a Portugal em 35 anos de democracia. Desculpem que vos diga, sou insuspeito, pois tenho cartão do PS e fartei-me de o explicar dentro do partido e em folhas de jornal. António José Seguro tem um papel difícil pois sabe que tudo isto é verdade e tem o dever de conduzir o PS novamente à governação. Eu gostava de o ajudar, mas tem de desparasitar o partido de caras com sinais de Parecerias Público Privadas, com reformas de um ano de trabalho, prémios de bancarrota e muitas vergonhas mais. É como retirar um tumor intestinal enorme e conseguir salvar o doente.
Por: Diogo Cabrita