por Luísa Fernandes*
Fazendo minhas as palavras de Jorge Luís Borges, “Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de livraria”. Neste, viveria rodeada pelos livros da minha vida, todos os que se encontram dispersos na minha memória e imaginação, que me apaixonaram, que me marcaram, mesmo que pela negativa ou pelo cansaço (Confissões de Sto. Agostinho de Hipona). Alguns permitiram-me desfrutar de momentos de puro prazer e deleite, de ternura e afeto, sentimentos imemoráveis, rastos de alegria, emoções turbulentas, pequenas conquistas e vitórias … O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos, o Perfume, de Patrick Süskind, A Casa dos Espíritos, de Isabel Allende, Os Maias e A Cidade e as Serras, de Eça de Queirós, Siddhartha, de Herman Hesse, O Principezinho, de Antoine de Saint-Exupéry, Cem anos de Solidão, de Garcia Márquez, As vinhas da Ira, de John Steinbeck, Retrato de Dorian Gray, de Óscar Wilde, A Insustentável leveza do ser, de Milan Kundera, A 3ª Visão de Lobsang Rampa…
Outros obrigaram o meu pensamento e espírito inquieto a encontrar-se e a reencontrar-se, a redescobrir-se, a despertar os sentidos, a voar e a transpor os limites do mundo e da realidade, a refletir sobre a natureza e a condição humana, aventando nomes como Camus, com O Estrangeiro e o Mito de Sísifo, George Orwell, com 1984, Aldous Huxley, com o Admirável mundo novo, Nietzsche, com A origem da tragédia, Fernando Pessoa, com O livro do desassossego, Sartre, Gasset, Foucault ….
Os livros da minha vida são os companheiros silenciosos de momentos inesquecíveis repletos de sonhos, experiências, mistérios, reflexões e conhecimentos. São a possibilidade de liberdade, de vivenciar a náusea, a angústia, a opressão … são o veículo que permite cruzar as fronteiras entre o imaginário e o real, entre o permitido e o proibido… são o refúgio, o lugar onde o esquecimento se viabiliza e o ser se revela no seio de incoerências, incongruências, medos e desejos e onde os pequenos nadas se transformam e ganham vida. Os livros da minha vida (lidos, relidos e a ler) são páginas de liberdade onde as palavras têm o poder de enfeitiçar, aprisionar, fazer rir e chorar, dar vida a mágoas, a existências perdidas, a sonhos desfeitos. São uma paixão que não se perde, um amor que o tempo eterniza e a memória imortaliza.
* Professora de Filosofia