Arranjo do automóvel sem recibo. Arranjo da casa sem recibo. Arranjo do cabelo, compra de móveis, compra de géneros alimentares e tantas outras coisas sem papeis. Ele é rendas, ele é garagens, ele é roupa, ele é restaurantes. A Manuela enlouquece sabendo como não se fazem papeis, não se registam ganhos. Mas Manuela não dá a razão para pedir. Tem que valer a pena pagar, tem que fazer sentido gastar o dinheiro e pagar o respectivo imposto. Para além da conversa que o Estado somos todos, que o dinheiro é necessário para o bem e os bens públicos, coisa de mentes evoluídas e cultas, há que dar razões aos estúpidos, aos insanos, aos paralelos para que paguem. Por exemplo, dizer que as despesas entram nas contas de IRS. Renovar a casa, os livros dos filhos, o advogado, as reparações do domicílio, o parecer do arquitecto, os seguros com a casa, as pessoas e os carros, tudo deve entrar para descontos e as pessoas passam a pedir recibos. A Manuela quer ganhar a fatia completa, mas o povo só parece estúpido, na fineza do detalhe ele faz contas de mercearia, contas simples do deve e haver, e sabe quanto poupa se não der nada à Manuela. Depois o insano percebe como são mal gastos os dinheiros que se dá à Manuela para gastar. O povo vê as pontes a cair, vê os viadutos onde não há ferro, os buracos na estrada, a justiça perra dos outros, a saúde pêca das instituições. Ele é o futebol, ele é estádios, ele é piscinas em cada aldeia, ele é centenas de deputados que não falam no Parlamento, ele é ordenadões a Presidentes de Junta, ele é Porches, Ferraris, e o povo não quer pagar nada disto. Falta-lhe o polícia, o sossego, a justiça, o médico. As crianças com falta de transportes, o Hospital Pediátrico que não nasce… e tantas coisas que o povo gosta e não tem. Por tudo isto a Manuela queria e não leva.
Por: Diogo Cabrita