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Opinião – João Correia, Docente da Faculdade de Ciências da Saúde da UBI e médico no Hospital Sousa Martins (Guarda)

Uma das melhores sensações que se pode ter seja qual for a profissão é sentirmos que contribuímos para a formação dos nossos pares, assistindo ao longo do tempo à aquisição progressiva e sustentada de competências, permitindo neste caso criar novos médicos. Aderi desde cedo a este projeto, porque acreditei nele e nas pessoas que o integravam.

Ao longo destes dez anos o Curso de Medicina, que foi o primeiro da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira interior (FCS UBI), conseguiu manter a sua sustentação e credibilidade alicerçado nos três Hospitais da região, introduzindo conceitos pedagógicos inovadores, mas assentes em correntes bem documentadas e com êxitos constatados noutras paragens, de elevada e indubitável qualidade. Estes conceitos exatamente por serem inovadores e arrojados, criaram algumas dúvidas nas cabeças mais conservadoras, que foram lançando para o ar críticas na maioria injustas e infundadas, abafadas pelo tempo, mas principalmente pelos bons resultados. Desde a auto aprendizagem, passando pela utilização de manequins e do conceito de e-learning. Tudo cheirava a novidade há 10 anos, hoje são considerados como parte integrante e indissociável do ensino médico.

Nos primeiros anos a impressão que eu tinha é que se tratava de um curso democrático, com muita discussão, muitas reuniões, muitos “brain storming”. Na verdade, sentíamo-nos envolvidos naquela nova criação. Um dos exemplos da vontade de continuar a criar na área do ensino é o “Multilingual virtual simulated patient project”, no âmbito do programa Leonardo Da Vinci, sendo a única Faculdade nacional que o integra, esperando-se que venha a criar um doente com um padrão regional, para ser utilizado não só por alunos, mas também por médicos.

Uma das repercussões mais importantes faz-se sentir nos Hospitais e Centros de Saúde, por onde são distribuídos os alunos, dando início a uma invasão controlada de batas brancas, aumentando a humanização e a qualidade da prestação de serviços. Na realidade, o que poderia parecer uma perturbação do normal funcionamento dos Serviços funciona como um estímulo para a pesquisa e para a atualização contínua dos médicos, ganhando todos com isso, principalmente os doentes.

O aumento do número de alunos em crescendo é já uma realidade, e o que na perspetiva de alguns seria um sinal de sucesso e de vantagem, torna-se aos olhos de outros, motivo de preocupação, levantando problemas de logística nos Hospitais, quer em relação ao espaço quer em relação aos assistentes/professores. A estrutura do curso assenta na proximidade e talvez até na cumplicidade entre o aluno, o doente e o tutor. Este triunvirato pode desmantelar-se com o aumento de alunos.

Por fim, um dos motivos que levou à criação do curso foi o de cativar médicos para o Interior, mas na realidade nesse aspeto poucas têm sido as vantagens obtidas. As escolhas dos jovens licenciados dependem das especialidades médicas oferecidas e estas dependem das condições locais de formação, sendo que as primeiras dependem das escolhas do Ministério da Saúde e as segundas da atribuição de idoneidades pelos Colégios da Ordem dos Médicos.

Num aniversário, apagamos as velas, trincando-as formulamos um desejo. No meu caso desejo que reformulem rapidamente a legislação que regula a formação médica permitindo a colocação de médicos em Hospitais que apesar de não possuírem idoneidade para tal os possam colocar noutros e recebê-los posteriormente já especializados. Estaria assim cumprido um dos grandes objetivos da Licenciatura e Mestrado Integrado da FCS UBI.

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