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«Vamos apostar numa programação muito forte»

Cara a Cara – João Trabulo

P – Como surgiu a ideia de realizar um festival de cinema em Vila Nova de Foz Côa?

R – Sou natural da região e o presidente da Câmara fez-me uma proposta no sentido de fazer um festival, onde eu teria “carta branca” para a programação. Pareceu-me muito interessante e de acordo com ideias que eu já pretendia desenvolver. Nunca tinha dirigido um festival e foi uma experiência muito cansativa, mas muito enriquecedora. Surgiu naturalmente e parece-me que Foz Côa tem uma série de elementos e configurações geográficas e patrimoniais muito interessantes para se fazer um festival de cinema que aposta muito precisamente no património da sétima arte.

P – Quais os critérios usados pela organização na escolha dos filmes a exibir?

R – Primeiro tivemos de escolher face ao orçamento que tínhamos e aos poucos meses que restavam para a data fixada. Nesta edição, quisemos apostar em dois grandes realizadores portugueses: António Reis e Margarida Cordeiro. E também Manoel de Oliveira. Todos eles filmaram na região do Douro e Trás-os-Montes. Foi uma dupla homenagem. A partir daí, fomos também aos primórdios do cinema com Chaplin e os Irmãos Lumière. Pedimos ainda ao diretor do Museu de Serralves para nos ajudar na tarefa, uma vez que um dos palcos do festival também era o Museu do Côa. Ele ofereceu-nos um conjunto de filmes inéditos do Ângelo Sousa, que trabalhou bastante na zona do Côa.

P – O festival foi uma tentativa de aproximar as pessoas que vivem no interior do cinema, sobretudo de filmes a que nem sempre têm acesso?

R – Sim. Tentámos trazer público às salas e conseguimos. Praticamente tivemos as sessões esgotadas. Ao longo destes quatro dias, houve mais de 2.500 espectadores, o que é significativo. Queríamos sentir o pulso do concelho, da região e percebermos até que ponto as pessoas se interessavam por cinematografias mais complexas. A aceitação foi enorme, fantástica. Claro que nas próximas edições temos de rever uma série de aspetos. À partida, parece-me que vamos ter de alargar o festival, com outras sessões, utilizando também outra estratégia para mover ainda mais o público. Há aldeias com acessos complicados, talvez canalizar alguns autocarros para trazer mais pessoas. O objetivo é esse: fazer um festival com belíssimos filmes, mas para oferecer às pessoas, não é algo que se pretende hermético, só para convidados ilustres.

P – Houve uma tentativa de aliar o cinema ao lugar, a Vila Nova de Foz Côa. Foi bem-sucedida esta intenção de enquadrar o festival com o espaço?

R – Através do festival, vieram imensas pessoas de Espanha, do Porto, de Coimbra e de outras regiões, que acabaram por ver filmes e simultaneamente conhecer o Museu, fazer viagens e visitar o Parque Arqueológico. Houve uma grande sintonia entre a direção do Museu, a Câmara Municipal e a direção do CineCôa.

P – Qual é o balanço que faz deste primeiro festival?

R – O balanço é fantástico. Tivemos as salas praticamente cheias, com público vastíssimo, público nacional e regional, pessoas dos 10 aos 90 anos. Pessoas muito envolvidas e interessadas em assistir aos debates. Jornalistas, programadores de cinematecas, produtores, atores e realizadores também estiveram presentes e a assistência mostrou-se sempre interessada em discutir os temas depois das sessões.

P – Já há novas linhas de orientação para futuras edições?

R – Queremos criar parcerias com universidades que tenham o curso de cinema. Em Foz Côa, existe uma Pousada da Juventude e haverá ali uma série de públicos que podem intervir, participar e ver filmes no festival. Estamos a pensar em organizar workshops, conferências e colóquios com técnicos, realizadores, escolas locais. Além disso, queremos trazer pessoas de outras áreas artísticas, da pintura à música e à arquitetura. Vamos apostar numa programação muito forte, com linhas coerentes. A ideia não é fazer um festival múltiplo onde passam filmes soltos, mas sim tentar criar uma unidade temática. Para o ano já há uma série de linhas de orientação que nos fazem crer que será um festival ainda melhor.

João Trabulo

«Vamos apostar numa programação muito forte»

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