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Canadiana vence Cine’Eco 2003

Edição do próximo ano já está garantida pela autarquia de Seia, que festejará também os 20 anos da Casa Municipal da Cultura

“Le Bien Commun: L’Assault Final” (O Bem Comum: Assalto Final), da realizadora canadiana Carole Poliquin, foi o filme vencedor do grande prémio do Cine’Eco 2003 – IX Festival Internacional de Cinema e Vídeo de Ambiente da Serra da Estrela, que terminou este fim-de-semana em Seia. Trata-se de um documentário que apresenta, através de várias histórias filmadas no Canadá, EUA, México, França, Brasil e Índia, uma visão reveladora e abrangente de uma comunidade global submetida à teia dos interesses privados. Além da campânula de ouro, símbolo máximo do festival, Caroline Poliquin ganhou ainda 3.750 euros, que receberá posteriormente, dado que não veio a Seia, como a maioria dos realizadores desta edição.

Apesar das dificuldades económicas que assombraram a realização do Cine’Eco, o festival atribuiu 11 prémios e 11 menções honrosas a obras que sobressaíram num recorde de mais de 400 filmes a concurso, entre cinema e vídeo, de 41 países de todos os cantos do mundo. Uma das novidades foi a atribuição do “Prémio Camacho Costa”, instituído neste ano do falecimento do actor, ao filme “D. Nieves”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes. Este prémio foi patrocinado por um dos novos parceiros do Cine’Eco, a empresa “Almeida & Figueiredo Mediadores de Seguros, Lda”. Mas há mais. A Águas do Zêzere e Côa, Associação de Arte e Imagem de Seia, BPI, Império Seguros e Escola Superior de Turismo e Telecomunicações senense já garantiram apoio, juntando-se ao ICAM – Instituto de Cinema Audiovisual e Multimédia e outras entidades, para permitir que o Cine’Eco 2004 «seja uma realidade quando esta casa faz 20 anos», realçou Carlos Teófilo, director executivo do festival, agradecendo em especial à Câmara por ter evitado que esta edição não tivesse «ficado pelo caminho».

O júri internacional, cujo presidente honorário, o humorista Raúl Solnado, não pôde estar presente no encerramento devido a compromissos profissionais, atribuiu ainda o prémio Especial da Lusofonia ao filme “O Gotejar da Luz”, do realizador português Fernando Vendrell; o Prémio Educação Ambiental ao “Novos Contos da Floresta”, de António Nobre Marques; o Prémio Água ao “L’Acqua Che Non C’é” (A Água que Não Existe), da italiana Alessandra Speciale; o Prémio Valorização de Resíduos ao “Hora de Tecer”, do brasileiro Neide Duarte; o Prémio Vida Natural ao “Crime na Arca de Noé”, uma produção da RTP de António Nobre Marques; o Prémio Polis ao “Ambiente em Imagem: Paisagens”, de Francisco Manso; e ainda o Prémio Antropologia Ambiental ao filme “A Kalahari Family” (Uma Família do Kalahari (Namíbia)), do realizador John Marshall. Já na categoria de Vídeo Não Profissional, o júri escolheu o filme “Quê”, do português Roberto Roque e, por último, o Prémio Especial da Juventude foi atribuído ao filme “Kami No Ko Tachi” (As Crianças de Deus), do realizador japonês Hiroshi Shinomiya.

Cine’Eco integra associação europeia

«Este festival não pode de maneira nenhuma ser interrompido», anunciou o autarca Eduardo Brito, que quer levar Seia «aos quatro cantos do mundo» através da «afirmação estratégica» do Cine’Eco. Daí ter assumido que «quando temos projectos destes não há défice», declarando aberto o festival de 2004, ano em que a autarquia tem dois desígnios: fazer um festival «bem melhor que este», para que os 10 anos do Cine’Eco e os 20 da Casa Municipal de Cultura «sejam em pleno», e dotar o concelho de estações de tratamento, com a Águas do Zêzere e Côa. Garantias que animaram a plateia, mas sobretudo a organização, que vem sentindo a falta de apoios importantes dos ministérios da Cultura, que tem tido um «apagamento em praticamente todas as áreas», e das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente, um dos parceiros «mais» importantes há nove anos, mas que deixou de apoiar o festival desde que o IPAM – Instituto de Promoção Ambiental foi extinto, há dois anos.

Ainda assim, o festival senense vai de “vento em popa” com salas «quase sempre cheias» de jovens. Lauro António reconhece que de ano para ano há um «maior espírito crítico» do público e uma «maior consciencialização» do acto de ir ao cinema e de ver um filme respeitando os outros. «A construção de uma consciência cinematográfica demora muito tempo mas está a conseguir-se no Cine’Eco», afirma o responsável, enaltecendo a qualidade do festival que é uma «referência» a nível internacional. Uma atributo que levou os festivais da Grécia, Itália e Espanha a convidarem o único certame português dedicado a esta temática a formarem uma associação de festivais de cinema e ambiente europeus. O objectivo é poder aceder a mais fundos comunitários, ter uma rede de contactos internacionais e uma base de dados de todos os filmes de ambiente disponibilizados na Internet. Há ainda a hipótese de instituir um prémio internacional para cada festival e um galardão europeu de filmes de ambiente. A associação está praticamente criada, resta apenas elaborar os estatutos para que nos primeiros meses de 2004 comece a trabalhar. Outra das novidades do Cine’Eco é a parceria com a Universidade de Pernambuco, que vai dar origem a um festival do género naquela instituição brasileira, cujo regulamento será feito pelos organizadores do festival de Seia. Haverá ainda intercâmbio de filmes e de conhecimentos, com a promoção de cursos nas duas cidades. «Julgo que daqui a um ano teremos cerca de 20 parcerias», salienta Lauro António, realçando as demais feitas com várias cidades europeias.

Rita Lopes

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