Um livro, um candeeiro, uma moeda ou jogo – os objetos há muito que “envelheceram” e agora contam a história de um tempo que já não existe. Quem compra quer recuperar memórias, regressar ao seu próprio passado, e a Praça Velha foi, no último domingo, um bom ponto de partida para essa viagem ao encher-se de “velharias” com mais uma edição da Feira de Antiguidades, organizada pela Agência para a Promoção da Guarda (APGUR), que contou com a participação de cerca de 40 expositores.
Mesmo em ano de crise e sob um céu que ameaçava chuva, Cândida Fonseca não tem palavras amargas. «Sempre se vai vendendo alguma coisa», adianta. «É um vício, sabe. Comecei a juntar alguns objetos antigos que tinha em casa e agora parece que ando sempre à procura. Cada vez que volto à aldeia, vejo no sótão se há mais velharias para trazer», acrescenta. Já participou em várias edições e garante que este tipo de iniciativa «traz mais gente ao centro» da cidade. «A Guarda está muito parada e sempre que há qualquer coisa diferente aqui, as pessoas acabam por vir», considera. Junto às arcadas, Alberto Morão também partilha desta visão. «Uma feira de velharias traz muita gente e mesmo que não se venda muito, é sempre bom para os negócios de cada um, porque vamos trocando impressões. Acho que deveria haver mais iniciativas destas», sugere. Enquanto estudava, a sua paixão era a troca de moedas. Ao longo dos anos foi engordando a coleção até ao dia em que já não soube o que fazer com ela. «Falei com uns amigos que na altura me sugeriram que começasse a vender e foi isso que fiz. Mas mesmo assim ainda continuo a comprar», refere.
Já Efigénia Cabral é dona de uma papelaria e o que não falta no seu estabelecimento são livros esquecidos no tempo. Para não “morrerem” nas estantes ou nos caixotes, estão agora aqui, em pleno chão da Praça Velha, livres de receios da crise. «Mesmo nestas alturas vende-se bem», garante. Se as velharias atraem, os jogos que antigamente animavam as aldeias também não ficam atrás. Foram muitos os visitantes que quiseram experimentar o jogo do “pilinhas”, do “sapo”, da “macaca” ou do “burro”, no expositor da Associação de Jogos Tradicionais da Guarda. Norberto Gonçalves, um dos seus responsáveis, explica que esta participação na feira «é uma forma de não deixar cair no esquecimento o património e deixar que ele volte a fazer parte do quotidiano das pessoas». Por sua vez, o diretor da APGUR assume que esta edição «foi uma das mais concorridas em termos de expositores». António Saraiva adianta que a iniciativa «é para continuar», já que «tanto o público, como os feirantes, têm dado alento à Agência para dar andamento e continuidade a projeto». A Feira de Antiguidades e Colecionismo realiza-se desde 2007, nos primeiros domingos de cada mês entre agosto e outubro, sendo que a última deste ano está agendada para dia 2 do mês que vem.
Catarina Pinto