Na Função Pública portuguesa não deve haver muitos registos, ou memória, de alguém punido por nada fazer. Não trabalhas, não produzes, foges para fumar sete vezes por manhã e nada te acontece. Se não te expões não te criticam. Diz que não sabes, diz que não consegues e poupam-te a agrura da labuta, a força da produção. Processos estão guardados para quem trabalha, para quem se expõe, para quem quer fazer alguma coisa. Se brilhares, alguém se ofusca. Se fores elogiado, o ciúme derramará. Os processos vêem dos externos que só reparam em quem trabalha e pressionam, carregam-no com perguntas, mais pedidos e avolumam favores. Outros acoitados na preguiça, na conversa vã, nos cigarritos constantes, não se mostram e por isso não são atacados. Por dentro é o ciúme, a inveja, a pequenez de alguns que destrói a Função Pública. Verdadeiros casos de polícia são abafados, situações intoleráveis são apoucadas, e deste modo formam-se comportamentos marginais que se julgam intocáveis.
Tudo isto tem apenas uma causa – as más direções intermédias que não distribuem equitativamente o trabalho, que não definem tarefas, que não desenham modelos hierárquicos com obrigação de trabalho, que não fiscalizam a produção, que não apresentam planos de desenvolvimento e mesmo assim permanecem intocáveis, acoitados na família, no abraço, no aconchego dos jeitos e favores. Assim se formam as listas de deputados, se entregam os Serviços de pai para filho, se perpetuam lugares de família, se controlam negócios paralelos (carraças) do Estado.
O mal dos portugueses não está em quem trabalha. Mal é haver compras de produtos que não se usam, haver prateleiras carregadas de estúpidos investimentos, de máquinas repetidas, de coisas que se fizeram para não caberem no lugar desejado. Há quem faça parte de júris de escolha e consiga comprar o que nunca observou. Há quem encomende para projetos que não vão abrir. Há quem crie monstros como o Pediátrico novo de Coimbra e só agora ande a meditar em como lhe dar utilidade. Em cada tiranete há um comprador de inutilidade, um visionário dos produtos armazenados. Não! O lucro do trabalho que auferimos em recibos, não é o problema. Não! O lucro taxa-se em impostos, a delinquência desta forma de gerir é que condiciona falência. Deixem o povo trabalhar. A exclusividade em países onde os salários são de miséria arrastam descontentamento, provocam degradação e não criam melhoria. Os que estão no Estado, se cumprirem as suas funções, devem fazer o que lhes der na gana depois. Tudo sob a devida fiscalização e controlo, claro. E sempre de modo igual para todos, coerente e transparente nas regras e nos castigos.
Por: Diogo Cabrita