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O renascer de um festival que quer abraçar a Serra

Gabriel O Pensador foi o artista que atraiu mais gente ao recinto

É um lugar que parece ter reunido consensos. Tem água cristalina, montanhas de encontro ao céu, o verde a pintar a paisagem. No ar, a música. No chão, os passos de muitos festivaleiros que rumaram no último fim-de-semana ao complexo do SkiParque, na Relva da Reboleira (Sameiro). A quinta edição do Festival Serra da Estrela terminou no sábado, com a atuação de Gabriel O Pensador – um concerto que, para muitos, foi o ponto alto no balanço dos três dias.

O músico brasileiro chegou atrasado, mas as rimas improvisadas sobre a Serra da Estrela ajudaram o público a perdoar o tempo de espera numa noite em que era difícil esquecer o frio. A entrada em palco chegou, aliás, para aquecer o ambiente e Gabriel não teve de se esforçar muito para conquistar a atenção da assistência. Bastaram canções como “Nunca Serão” ou “Cachimbo da Paz”. E, claro, “Até Quando?” na despedida. A última noite começou com o reggae de Freddy Locks, seguido dos sons do saxofone, trompete ou clarinete da Kumpania Algazarra. Se recuarmos até sexta-feira, destaca-se o espetáculo dos OqueStrada – os cabeças-de-cartaz da noite -, mas também o surpreendente concerto dos Teratron, banda que reúne dois membros dos extintos Da Weasel que chegaram acompanhados por Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta. No palco: cor, ruído e a voz do ator Miguel Guilherme – o narrador que nos conta a história do álbum “As Cobaias”. Os ingredientes bastam para desconcertar o público, que ora salta freneticamente ao ritmo da poderosa sonoridade, ora descansa numa tentativa de entender a história que Miguel Guilherme está a narrar. Muitos não sabem sequer que é apenas uma voz, sem presença. Mais do que um disco, fica claro que o projeto “As Cobaias” se assume como um policial ou folhetim, onde o enigma se mistura com o negro da noite, rompendo com tudo aquilo a que o público está habituado a ver e ouvir num concerto. Já o primeiro dia, quinta-feira, não foi menos surpreendente. Apesar de já ocuparem um lugar cativo na cena musical portuguesa, os Virgem Suta conseguiram a proeza de conquistar os mais céticos.

Num instante, puseram o recinto a “mexer”. “Brinde a vós”, “Linhas Cruzadas”, “Dança de Balcão”, “Tomo conta desta tua casa” e até a subida inesperada ao palco de dezenas de pessoas deram ainda mais cor ao espetáculo. Com o avançar da noite, chega mais gente e o palco é ocupado pelo folk, os blues e o rock’n’roll de Sean Riley & The Slowriders. Há pouca interação com o público, mas nem é isso que se pretende. A banda de Coimbra deixou um misto de melancolia, de ilusão e sonho. E canções como “Houses and Wives”, “Silver” ou “Lights Out” ajudaram à “viagem”. No final do evento, o presidente da Orgânica – associação que organiza o festival – fazia um balanço «positivo». «Acho que temos agora um projeto em mãos bastante valioso de acordo com o que as bandas nos dizem e todas as projeções nos indicam isso em termos de público. Queremos continuar a manter o festival no ambiente familiar que se vivia em todas as outras edições», adianta Nuno Abrantes. Sobre a “deslocação” do festival de Valhelhas para Sameiro – que não se realizou durante dois anos por falta de apoios – o responsável diz apenas que ambos os locais têm condições e que o mais importante é que «o festival continue a existir na Serra da Estrela». O INTERIOR tentou saber, junto da organização, o número de bilhetes vendidos mas sem sucesso, até ao fecho da edição.

«Vim pelo ambiente e pelo convívio»

Se o cartaz de um festival se torna fulcral, o ambiente não pode ser menos importante. Durante o dia, os mergulhos no rio Zêzere, o som dos diferentes DJ’s (jovens que ganharam o passatempo promovido pela organização), as atividades ecológicas, o parapente, o ski ou snowboard tomaram conta da Relva da Reboleira. José Morgado, um dos jovens instalados no parque de campismo, assume que o cartaz não lhe agrada e, por isso, veio sobretudo pelo «convívio». «Do que gosto mais é do ambiente em si, está tudo muito limpinho, a organização está boa, há muitas árvores, podemos respirar ar puro e até há menos moscas do que em Valhelhas», considera. Já Elisabete Pedrosa, outra jovem, explica que foi convidada por alguns amigos e que nunca tinha ouvido falar no festival. «Não conhecia e está a ser ótimo, o lugar é bonito, espetacular e a segurança é muito boa também», conclui. A par dos que vieram à procura de diversão, houve ainda quem quisesse participar no programa de voluntariado e trabalhar em bares, bilheteiras ou no backstage.

«Somos todos serranos hoje»

Durante o fim-de-semana conheceram pela primeira vez o poder da Serra da Estrela: a beleza, a sua gente, o ar puro e até o frio. O espaço parece ter agradado também aos artistas. «Isto é maravilhoso, somos todos serranos hoje e acho fantástico fazer o festival aqui perto do rio», garantiu Marta Miranda dos OqueStrada no final do concerto, na sexta-feira. Começaram a carreira como uma orquestra que percorria ruas e tascas – «os espaços mais gloriosos do país» – mas agora sobem aos palcos para mostrar o “TascaBeat”, música onde fado e batida acústica são um só. «Quando nós começámos as pessoas achavam, em Portugal, que isto era uma música que não resultava. O circuito musical fechou-se durante muito tempo a outras abordagens, mas como nós sempre fomos uns lutadores e sempre achámos que ser português é ser lutador e não é estar no sofá… conseguimos», recorda a vocalista. Para Afonso Rodrigues, dos Sean Riley & The Slowriders, «o público é simpático e o lugar muito bonito». «Em palco, estou compenetrado no que estou a fazer e acabo por me abstrair do que está a acontecer, mas sempre que abria os olhos ouvia pessoas a bater palmas e a pedirem canções», recorda.

GNR deteve seis pessoas por tráfico de estupefacientes

O Comando Territorial da GNR da Guarda deteve, durante o fim-de-semana, seis jovens, com idades compreendidas entre os 16 e os 28 anos de idade, por tráfico de estupefacientes, no âmbito da operação de fiscalização efetuada no Festival Serra da Estrela. Os detidos foram presentes ao Tribunal Judicial da Guarda e ficam a aguardar o resultado dos inquéritos, com a medida de coação de Termo de Identidade e Residência. A totalidade de droga apreendida foi de 75 gramas de haxixe, 33 gramas de cannabis sativa, cerca de 3,2 gramas de MDA e ainda 0,46 gramas de cocaína (quantidades suficientes para 250 doses individuais), revelou a GNR em comunicado. Foram também elaborados 11 autos de contraordenação para a Comissão de Dissuasão da Toxicodependência. Para efetuar a operação entre quinta e sábado, o comando contou ainda com a colaboração dos militares do núcleo de investigação criminal de Gouveia e do Posto Territorial de Manteigas.

Catarina Pinto Sean Riley & The Slowriders atuaram na primeira noite

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