A decisão da Câmara da Guarda de não atribuir subsídios à atividade desportiva na época 2011/2012 não recolhe unanimidade entre os dirigentes de vários clubes ouvidos por O INTERIOR. A autarquia quer pagar o que deve desde 2009, cerca de 700 mil euros, e não se comprometer com mais encargos nesta área, numa medida aprovada um ano depois do município ter implementado um plano de redução dos subsídios na área do desporto.
De acordo com o vereador desporto na autarquia, «a nossa obrigação é não criar mais encargos que a Câmara não consegue saldar e pagar o que se deve desde 2009». Vítor Santos adiantou que espera liquidar «grande parte da dívida» esta época e que o fará «à medida das disponibilidades financeiras» da autarquia. «Contamos ter resolvidas as contas de 2009 e parte de 2010», disse, referindo que neste interregno os clubes não vão pagar pela utilização dos equipamentos desportivos municipais. NDS e Guarda Unida são as coletividades com mais apoios em atraso. O presidente do primeiro clube garante que «nós precisamos de dinheiro mas se a Câmara não o tem, temos que concordar com esta decisão para ver se vão amortizando o montante em falta e não aumentarem ainda mais o que devem». Filipe Dente frisa que os responsáveis da autarquia «prometeram que nos continuavam a assegurar os transportes e as instalações, o que para nós já é uma mais-valia». Deste modo, reconhece que «acabamos por não ter outro remédio senão aceitar», adiantando que o montante em atraso ronda os 90 mil euros, uma verba que «nos causa dificuldades no dia-a-dia». Mais crítico é o presidente do Guarda Unida que encara a medida aprovada pelo município com «desagrado», já que «as coletividades que se dedicam às camadas jovens como nós não têm fins lucrativos» e as autarquias «têm a obrigação de apoiar quem faz este serviço». «Repare-se o que seria 500 ou 600 jovens andarem aí “aos caídos” sem terem o que fazer?», isto no caso dos clubes acabarem com as suas atividades. António Pissarra reconhece que «a crise é grande mas então que se corte em tudo e não só no desporto, não é reduzir tudo de um lado e nada do outro».
«Compreendemos as dificuldades mas tem que haver um meio termo e não usar este princípio de base zero apenas no desporto», reforça. O dirigente indica que a verba em falta é de cerca de 66 mil euros e que «já seria bom se fossem pagando o que está para trás», sendo que, em virtude desse atraso, «nós também devemos algum dinheiro à Associação de Futebol», uma vez que «teríamos as nossas dívidas liquidadas caso a Câmara tivesse as suas contas regularizadas».
Outro clube que compete nos campeonatos séniores de futebol é o Gonçalense e o seu presidente considera que «se for para pagar as dívidas de anos anteriores eu concordo» com a medida da Câmara porque «estarem a deliberar a atribuição de mais verbas e depois não pagar nenhumas é pior ainda». «Acho sinceramente que é uma boa política, desde que seja para pagar o que está em atraso. Acho que é preferível assim», defende Bruno Pina. O clube da vila de Gonçalo movimenta cerca de 50 atletas, tendo um montante em dívida que ronda os 15 mil euros: «O montante não é muito elevado porque estivemos três anos sem futebol sénior mas para nós é muito dinheiro, embora reconheça que provavelmente comparado com outros é quase insignificante», sustenta. Não são só os clubes que apostam no futebol que vão ser afetados pela imposição do município e neste sentido também a União Atlética da Guarda vai ter os apoios camarários “congelados”. «Não acho muito correto mas sempre é melhor pagarem o que está em atraso do que ir acumulando a dívida», até porque «temos subsídios em atraso desde 2008 e desde essa altura que a verba todos os anos tem vindo a aumentar», revela a presidente da coletividade. Inês Monteiro indica que a dívida do município é de cerca de 10 mil euros, uma verba em falta que «nos causa transtornos na gestão» do clube que tem cerca de 30 atletas em atividade, sendo jovens na sua maioria. A dirigente garante que «o subsídio da Câmara é para nós fundamental porque as empresas apoiam pouco e quando apoiam é mais em géneros e não em dinheiro».
Ricardo Cordeiro
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