A Câmara da Guarda não vai atribuir subsídios à atividade desportiva nesta época. Em contrapartida, compromete-se a pagar os apoios em dívida aos clubes e coletividades. A medida, sem precedentes no historial do município, foi aprovada anteontem na reunião do executivo com a abstenção dos eleitos do PSD e prende-se com as dificuldades financeiras da autarquia.
Segundo Vítor Santos, vereador com o pelouro do desporto, «a nossa obrigação é não criar mais encargos que a Câmara não consegue saldar e pagar o que se deve desde 2009», estimando que a dívida global aos clubes seja da ordem dos 700 mil euros. A proposta foi apresentada aos dirigentes desportivos no início do mês e todos terão concordado com este «congelamento» dos subsídios camarários, adiantou o autarca, que revelou que NDS e Guarda Unida são as coletividades com mais apoios em atraso. «A comparticipação anual para o desporto no concelho era de 250 mil euros, valor que não conseguimos pagar a tempo e horas, pelo que esta opção de suspender os subsídios é a melhor medida para o setor», sustentou Vítor Santos. O responsável adiantou que espera liquidar «grande parte da dívida» esta época e que o fará «à medida das disponibilidades financeiras» da Câmara. «Contamos ter resolvidas as contas de 2009 e parte de 2010», disse, referindo que neste interregno os clubes não vão pagar pela utilização dos equipamentos desportivos municipais.
Rui Quinaz lamentou que se tenha chegado a este ponto e considerou que a medida «só contribui para se reconhecer o que foi a má gestão do passado». O vereador do PSD recordou que os sucessivos incumprimentos da Câmara podem «pôr em causa a sobrevivência de muitos clubes e associações» do concelho e admitiu que «o desporto, um setor-chave para este executivo, vai estar hipotecado» no próximo ano. Também a dívida aos bombeiros, cerca de 200 mil euros desde 2009, foi abordada nesta sessão, com o social-democrata a sublinhar que «o problema da autarquia já não é só financeiro, o que está em causa é a desagregação de todas as suas funções». Na resposta, Joaquim Valente assumiu que «temos tido algumas dificuldades em cumprir os nossos compromissos com a Associação Humanitária», mas adiantou que a Câmara tem colaborado de outra forma, nomeadamente com o destacamento de funcionários para os voluntários e refeições na cantina. Além disso, realçou que não cobrou a taxa municipal de proteção civil: «Se o tivéssemos feito haveria, porventura, dinheiro para pagar aos bombeiros», declarou.
Nesta reunião, a maioria aprovou ainda uma deliberação sobre a continuidade do Cybercentro, uma associação cujo único associado é a autarquia após a saída da ANACOM. Rui Quinaz quis saber o que faz e para que serve esta entidade que implica uma despesa anual de 30 mil euros do erário municipal. «Não faz sentido manter isto, é uma estrutura caríssima e tem contas autónomas», declarou, enquanto o presidente Joaquim Valente esclareceu que o Cybercentro continua a fazer sentido, mas que é preciso encontrar «outra área de prestação de serviços» e novos parceiros.
De acordo com a explicação dada pelo edil, atualmente o Cybercentro, que emprega três pessoas, tem apoiado as Juntas de Freguesia e as associações na área das novas tecnologias, mas parece que a sua grande atividade tem mais a ver com o ramo imobiliário. É que as suas principais receitas são provenientes do arrendamento de espaços no Solar dos Póvoas, na Praça Velha, à Localvisão e à Guarda Digital, bem como algumas lojas.
Luis Martins