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Basta o que basta

Editorial

1. Eu lembro-me. Foi dito e repetido que o BPN era um caso de polícia. E a polícia saiu à rua à procura dos culpados. Três anos depois, nada. Não há ninguém na prisão, não há ninguém condenado – o ex-presidente do BPN está em “prisão domiciliária”, num chalé cor-de-rosa, de um novo-riquismo florescente, onde, além da carência de bom gosto, não falta nada. O homem pode não andar feliz, mas também não sente privações, bem ao contrário da maioria dos portugueses, que vêm como o anterior Governo lá enterrou dois mil milhões de euros (nossos), e têm que pagar mais impostos para continuar a suportar os devaneios de políticos e governantes.

Mas será que não há culpados? Por onde andam os demais membros da administração do BPN? E o regulador e fiscalizador Banco de Portugal? Alguém foi preso? Não! Tirando Constâncio que “fugiu” para a vice-presidência do BCE, como prémio à irresponsabilidade, andam todos por aí a tratar da vidinha.

2. O Governo avançou com as prometidas privatizações. E não podia começar da pior maneira – um belíssimo augúrio do que está para vir… – vendendo o BPN. O Estado vai lá pôr 550 milhões (dos nossos) para que o banco cumpra os rácios de liquidez exigidos pelo Banco de Portugal e recebe 40 milhões (faz-me lembrar a anedota, que me contavam quando era garoto, de como Champalimaud comprou um banco à família Magalhães(?), passando um cheque do banco que comprara aos anteriores donos). Pelo meio, e para não dar chatices aos novos donos, autoriza-se a entidade a despedir até metade dos trabalhadores, com as indemnizações a serem pagas pelo Estado (por nós), que ainda terá de pagar eventuais custos sociais posteriores (desemprego…). A coisa pública pode ser administrada assim? Não, não pode. O BPN devia ter declarado falência. E obviamente teria saído mais barato a Portugal. E, outra vez, seria mais barato liquidar o banco do que vendê-lo.

3. Já não basta o que basta… O Governo decidiu ter outra aventura financeira vergonhosa: Alterou o organigrama da gestão da Caixa Geral de Depósitos, que Passos Coelho tanto queria privatizar, para lá colocar quatro novos administradores, todos por competência partidária (e um deles, o amigo do primeiro-ministro Nogueira Leite, ainda não tinha sido nomeado e, alarve, já pulava de contentamento pelas redes sociais).

Mas o pior… é que tenhamos que continuar a financiar a Madeira e o destempero de Jardim. Que alguém leve a Lei às ilhas. Que alguém faça cumprir a Lei na Madeira – todos os dirigentes políticos têm responsabilidades (Cavaco recebeu a oposição num quarto de hotel porque Jardim não quis que o Chefe de Estado fosse à Assembleia Regional). Todos têm culpa do que se passa na Madeira.

4. E obrigado! Obrigado a Eduardo Lourenço, que nestes tempos de infortúnio e dificuldade mantém a serenidade e nos dá alento, com as suas palavras, a sua sabedoria, o seu superior conhecimento. Expoente «maior da cultura e do pensamento ibéricos» Eduardo Lourenço vai ser homenageado no próximo sábado, na sua aldeia. «Que o português médio conhece mal a sua terra – inclusive aquela que habita e tem por sua em sentido próprio – é um facto que releva de um mais genérico comportamento nacional, o de viver mais a sua existência do que compreendê-la.», in O Labirinto da Saudade. Afinal, ainda temos bons momentos. Momentos de reflexão e crítica, momentos de poesia e ilusão.

Luis Baptista-Martins

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