O abate de mais três freixos seculares junto ao Convento dos Frades, na vila medieval de Trancoso, nas duas últimas semanas, irritou a população e, sobretudo, a Associação de Protecção de Natureza daquele concelho. O facto é que ainda há cinco meses atrás ocorreu uma situação idêntica no Largo das Portas d’ El Rei, onde a autarquia cortou mais de uma dezena de árvores. Um «radicalismo», consideraram os trancosenses, mesmo depois do município ter apresentado a questão em reunião camarária e de basear a decisão no parecer de um especialista, além de prometer plantar novos exemplares no mesmo local assim que a intervenção estivesse concluída.
Cinco meses passados, a autarquia «continua a cortar árvores seculares», lamenta a APNCT, que quer saber se tal constava do projecto de alteração da área envolvente ao Convento dos Frades, se houve acompanhamento técnico da autarquia e ainda se «foram erros» nos trabalhos de fundações que afectaram o sistema radicular das árvores, pois se foi «comete-se o erro pela segunda vez». «Será que a Câmara Municipal de Trancoso não aprende com os erros ou actua de forma pensada e deliberada quando faz estas barbaridades?», interroga a associação, que, curiosamente, é financiada pela autarquia e está instalada num espaço camarário sem pagar qualquer renda. Uma posição que deixou Júlio Sarmento surpreendido, levando-o a afirmar que «era bom» que a APNCT se instituísse como parceira da Câmara e que «pelo menos, viesse junto de nós dizer o que pensa», uma vez que este projecto já está em curso há cerca de um ano. Ainda assim, o edil trancosense explica que o derrube de «meia dúzia» de freixos nas Portas d’ El Rei se deveu ao projecto de requalificação urbanística que «impunha» outro tipo de árvores. Foram então plantadas novas espécies e outras realinhadas de acordo com o projecto, pois as que ali existiam encontravam-se «desalinhadas» e «carcomidas».
No que concerne ao arranjo urbanístico do Convento dos Frades, Sarmento realça que antes de serem abatidos os três freixos foi pedido um parecer à Fundação Serralves, que passou a implementar um tratamento técnico «adequado» ao funcionalismo das árvores no espaço urbano, a um engenheiro camarário, ao executivo e ainda à Assembleia Municipal no passado dia 30 de Setembro. «A opinião unânime era que as árvores estavam velhas, carcomidas e que se tratava de três espécies com poucas condições», conta Sarmento, acrescentando que a autarquia já teve que indemnizar os proprietários de duas viaturas danificadas pelos freixos. «Só uma carrinha custou mais de três mil contos à Câmara», desabafa o autarca, para quem as árvores também têm o seu ciclo de vida. Júlio Sarmento garante ainda que no lugar das três árvores abatidas irão nascer 40, no âmbito do projecto de reabilitação da zona do Convento dos Frades, que prevê a plantação de um «pequeno» bosque que confrontará com o Parque Municipal, situado do lado oposto. «Não temos nada contra as árvores, mas nas condições em que se encontravam era aconselhável a sua substituição», justifica o edil, entendendo que perante projectos aprovados pelo IPPAR, elaborados por arquitectos conceituados, levados à Câmara e à AM e plantando muito mais árvores, «não se pode olhar para trás». As covas já estão feitas e a plantação, adjudicada ao empreiteiro da obra, estará concluída, «se o tempo ajudar», dentro de mês e meio.
Júlio Sarmento justifica ainda que estes projectos de intervenção são feitos pela Fundação Serralves, que «não pode ser acusada de cortar árvores», pois fá-lo com «transparência» e «todo o cuidado». É que há árvores que terminam o ciclo de vida e outras que podem ser protegidas e classificadas, mas «não é o caso», argumenta o autarca. Agora, as obras de reabilitação do Centro Histórico centram-se apenas na pavimentação e arranjos exteriores de monumentos, embora algumas árvores possam ser retiradas para serem alinhadas, mas Sarmento não prevê que, para já, haja uma intervenção idêntica na vila.
Rita Lopes