O essencial neste momento é conhecer o verdadeiro estado em que o país se encontra, como se chegou a esta situação, e como sair dela. Combater esta ideia de resignação é importante, não com declarações muito vigorosas que só convencem os próprios e os convencidos, mas sim com propostas concretas que mostrem aos portugueses que existem alternativas credíveis e exequíveis ao programa neoliberal da UE e do FMI e dos seus defensores internos e externos.
Estou incluído neste campo com todos aqueles que acreditam que há um caminho, onde abunda muito trabalho a realizar para apresentar propostas globais que sejam consistentes, compreensíveis e mobilizadoras para a maioria necessária para a efetiva alternativa. É um auto-engano pensar que isso se deve apenas à distorção levada a cabo pelos principais media, embora estes estejam a ter um importante papel na campanha de aceitação e de resignação que o poder politico e económico dominante procura incutir nos portugueses. A constatação deste facto apenas torna mais exigente a construção daquelas propostas que não se podem reduzir a simples propostas pontuais ou a reivindicações sectoriais não articuladas ou, ainda pior, a meras palavras de ordem política.
Mas isso só é possível se for fruto de uma reflexão coletiva, participada e democrática, mesmo com a participação de elementos de construção da efetiva democracia participativa, hoje a chamada cidadania muito em voga. A crise não tem apenas causas externas, como muitos pretendem fazer crer, embora tenha sido agravada pela crise internacional, ela tem como razão principal as políticas profundamente erradas adotadas pelos sucessivos governos nos últimos anos condicionadas pelo poder económico que, a partir da destruição do Estado, iniciada por Cavaco Silva, continuada com Guterres e até hoje na governação de Sócrates, não esquecendo Durão Barroso, que passou a determinar as principais decisões da politica económica portuguesa.
Uma parte significativa dos meios financeiros obtidos pelo crescente endividamento do país, do Estado, das empresas e das famílias não foi aplicado em investimentos produtivos. A prová-lo está o facto do endividamento ter aumentado muito no período 2001-2010, mas o crescimento económico médio em Portugal ter sido atrofiado.
O Estado endividou-se para construir, entre outras coisas, estádios de futebol, auto-estradas (em parcerias público-privados) e adquirir submarinos, ou então cobrir gastos em que não existiu uma vontade politica séria para combater eficazmente o desperdício e a má gestão, que asseguravam lucros fáceis e elevados aos grupos económicos dominantes, associados aos capital estrangeiro. Promoveu-se o transporte rodoviário muito mais caro, poluente e criador de dependência externa, em prejuízo do transporte ferroviário, bem claro no investimento levado a cabo nas linhas da Beira Alta e Beira Baixa, que ficou aquém do necessário, já que a última carece de investimento que sirva como efetiva alternativa ao eixo rodoviário A23, que permita a longo prazo uma via estruturante de mobilidade entre Guarda-Covilhã-Castelo Branco. A linha da Beira Alta deverá ser uma aposta articulada à ligação ferroviária ao Porto de Aveiro na rentabilização do transporte de mercadorias, existindo uma efectiva alternativa ao transporte rodoviário, via A25. Esqueçamos o TGV, pensemos na revitalização dos meios que temos mas subaproveitados.
Por: Honorato Robalo *
* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP