Gouveia, Fornos de Algodres e Seia são os concelhos que registam o índice de produção mais baixo em relação à média nacional. De acordo com os dados preliminares das Contas Regionais de 2009, divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a NUT III (Nomenclatura de Unidade Territorial) Serra da Estrela é a região portuguesa mais pobre do país, tendo o Produto Interno Bruto (PIB) por habitante mais baixo.
Em comparação com a média nacional, chegou-se à conclusão que nestes três concelhos produz-se, por pessoa, pouco mais de metade do que no resto do país. Esta é uma das NUT III mais pequenas de Portugal, o que contribui para perceber a assimetria. No entanto, os factores que explicam esta disparidade não se ficam por aqui. Para o impulsionador do Movimento de Apoio aos Itinerários da Serra da Estrela (MAIS), a melhoria das acessibilidades é «decisiva para o desenvolvimento» da região. «Conheço empresas que não se fixaram aqui porque não têm bons acessos e ligações ao resto do país», explica José Mário Branquinho. Na sua opinião, a ligação Seia-Viseu é, neste momento, a mais premente. Embora não fique satisfeito com «a imagem negativa que este estudo confere à Serra da Estrela», o também responsável pela Casa da Cultura de Seia reconhece que estes números podem funcionar «como um alerta para os poderes políticos fazerem mais para alterar a situação».
Nesse sentido, critica: «Há uma falta de peso político e de liderança no próprio distrito da Guarda», aconselhando ao mesmo tempo os cidadãos a «contribuírem na busca de soluções». «A cidadania também passa por percebermos o que cada um de nós pode fazer pela região», sublinha. O presidente do NERGA de Seia, António Campos, entende que «a mudança passa pela atribuição de incentivos a quem se quiser radicar no interior», nomeadamente à população jovem e qualificada, que muitas vezes prefere sair. Para inverter esta situação, a melhoria das acessibilidades também é um dos caminhos apontados pelo presidente da Comunidade Intermunicipal da Serra da Estrela. Álvaro Amaro assegura que bons acessos «podem trazer empresas e, consequentemente, criar empregos». Neste contexto, o também presidente da autarquia de Gouveia relembra que a solução pode passar por «uma política fiscal forte» de apoio às empresas, nomeadamente através da isenção ou redução de determinados impostos.
Caritas mais procurada
Além disso, Álvaro Amaro acredita que a descentralização de alguns cursos do ensino superior para outras cidades e vilas da região pode ser benéfica. «Não defendo a criação de mais universidades, mas ministrar alguns cursos noutras terras é uma maneira de lhes dar uma nova vida», considera. Sobre estes dados do INE, o autarca adverte, no entanto, para o perigo de se estar a extrapolar a conclusão do estudo: «Não podemos dizer que esta é a região mais pobre do país, porque a Serra da Estrela é muito mais que isto. É uma marca importante, que não diz apenas respeito a Seia, Gouveia e Fornos de Algodres», considera Álvaro Amaro. Ainda assim, os números são implacáveis e, no estudo das Contas Regionais do INE, a região surge distante da média nacional, no que diz respeito ao PIB per capita. Na Caritas de Gouveia, o contacto diário com as pessoas que mais precisam revela que há cada vez mais dificuldades na região. Umas das responsáveis, Marie France, explica que a Caritas auxilia neste momento 80 famílias e que, com a crise, «o número tem aumentado». «Esta é uma zona onde não há indústria e a agricultura é sobretudo para sustento familiar. O único potencial que aqui vejo é o turismo», adverte Marie France.
Madeira e Lisboa superaram média europeia do PIB
Se a NUT III Serra da Estrela (que compreende os concelhos de Seia, Fornos de Algodres e Gouveia) surge no final da lista por ser a região com o PIB, por habitante, mais baixo em relação à média nacional, no topo da lista surgem Lisboa e a Região Autónoma da Madeira. Em 2009, estas regiões chegaram mesmo a superar a média europeia, com valores que atingem os 110 e 105 por cento, respectivamente. Em comparação com a média nacional, nas 30 regiões NUT III, a Grande Lisboa regista a taxa máxima de 163,3 por cento, enquanto a taxa mínima é a atribuída à Serra da Estrela com 52,6 por cento. Já nas NUT II, as maiores disparidades do PIB por habitante, no Norte, verificam-se entre o Grande Porto com 105,7 por cento e o Tâmega com 55,4. Já na região centro, a percentagem de 99,2 do Baixo Mondego contrasta com os 52,6 por centro da Serra da Estrela. Na região de Lisboa, ficam distantes os 163,3 da Grande Lisboa dos 72,4 da Península de Setúbal. Por fim, na região do Alentejo o estudo demonstra que no Alentejo Litoral há uma taxa de 116,6 enquanto o Alto Alentejo regista 84,6 por cento.
Catarina Pinto 
