No Natal e Ano Novo a programação das televisões generalistas portuguesas sempre foi bastante previsível, com a reposição sistemática de filmes como “Música no Coração”, “Uma Casa na Pradaria”, “Sozinho em Casa” ou, o incontornável, E.T. Nos últimos anos estes filmes começam ser substituídos pelos filmes de animação com “Shrek”, “Madagáscar”, “Idade do Gelo”, ou “Toy Story”. Num futuro próximo, os filmes de Natal continuarão a ser filmes de animação, mas com o upgrade 3D. Com a cada vez maior comercialização de televisores 3D, julgo que nos próximos Natais, muitos de nós, estaremos de óculos à lareira a assistir a filmes 3D.
Se olharmos para os filmes através da lente da ciência verificamos que estas produções são um laboratório para estudos avançados de física e matemática. As personagens têm uma aparência realista que depende de um emaranhado de funções e equações. Segundo um artigo publicado na última edição da revista «Science», a física e a matemática estão relacionadas com salto de qualidade das animações.
Um dos exemplos que suportam esta tese, defendida no artigo, é a roupa das personagens, que nos últimos anos ganharam movimentos complexos. O trabalho desenvolvido pelos físicos computacionais provocou uma aproximação quase à realidade dos tecidos do “guarda roupa” usado no Shrek, uma vez que os tecidos ficam amassados, molhados e chegam a desfiar-se.
Para esta aproximação bastante grande da realidade, os especialistas utilizam um métodos que faz uma simulação completa de cada nó, cada torção no fio de tecido, que posteriormente é convertido em movimento. Contudo, esta “realidade animada”, ainda, apresenta uma lacuna quando se trata de tecidos mais grossos, pelo que surge a necessidade de corrigir esse problema através de uma equação que permite a formação de microburacos em pontos estratégicos da roupa.
Um outro exemplo onde cada vez mais existe um aproximação entre a realidade e a animação é a criação de ambientes realísticos envolvendo água e outros líquidos. Embora o campo tenha avançado muito, a criação destes ambientes ainda é um desafio, especialmente, quando elementos com características físicas e tamanhos muito diferentes estão juntos em uma mesma cena: como um navio (rígido) deslizando sobre um mar agitado. É a resolução deste e de outros problemas que guia a pesquisa dos físicos e matemáticos computacionais, para que seja possível trazer para a animação o mais pequeno pormenor da “realidade humana”.
Sugestão de Leitura para o início de 2011
Ideias Optimistas – Em que pensam os grandes cientistas quando estão de folga?
Autor:John Brockman
Edição/reimpressão: 2009
Editor: Tinta da China
ISBN: 9789896710026
Sinopse: Enquanto actividade e enquanto estado de espírito, a ciência é fundamentalmente optimista. A ciência descobre o modo como as coisas funcionam e graças a isso pode fazê-las funcionar melhor. A maior parte das suas notícias ou são boas notícias ou são notícias que podem vir a tornar-se boas, graças ao aprofundamento constante do conhecimento e a ferramentas e técnicas cada vez mais eficientes e poderosas.
Qual é a sua ideia optimista? E porquê?
Desafiados para responder a esta pergunta, os grandes cientistas da actualidade vislumbram, através das suas lentes de cristal, um futuro animador à nossa frente.
Iremos conseguir detectar precocemente o cancro, exponenciando as probabilidades de cura; os jovens adultos de hoje viverão, em média, até aos 120 anos de idade; é possível alcançar a imortalidade; as crianças deste século poderão habitar outros planetas; dentro de algumas gerações, serão inventadas máquinas que se reproduzirão a partir da energia solar; o terrorismo irá extinguir-se… – estas e dezenas de outras ideias servirão para desanuviar perspectivas e dar alento a todos os leitores.
Por: António Costa