A 12 de Outubro de 1492, ao septuagésimo primeiro dia de navegação rumo a Ocidente, a caravela Santa Maria, capitaneada por Cristóvão Colombo, encontra a ilha de Guanahani. Este acontecimento corresponde à descoberta de um Novo Mundo que se virá a chamar América.
Os Europeus admiram novas paisagens, plantas e aves exóticas, encontram civilizações desconhecidas e novos costumes. Aí, observam pela primeira vez um hábito dos nativos americanos, que teria tido o seu início 1.500 anos antes, com o povo Maia: consistia na inalação do fumo da combustão de uma planta, utilizando para tal um cachimbo ou as próprias folhas da planta enroladas. A planta era uma Solanácea (do verbo latim solari – consolar ou aliviar), da qual existem muitas variedades, sendo a mais comum a Nicotiana tabacum.
Aquele hábito tinha nascido como ritual e era utilizado em cerimónias religiosas ou ocasiões festivas (cachimbo da paz), sendo-lhe também atribuídos poderes mágicos, curativos e medicinais. Em 1518, Fernando Cortez envia pela primeira vez para a Europa sementes de Tabaco ao Imperador Carlos V, recomendando as suas propriedades terapêuticas.
Em 1560, Jean Nicot de Villemain, embaixador do Rei Francisco II de França na corte do Rei D. Sebastião de Portugal, tendo tido conhecimento das virtudes medicinais desta planta e sabedor das violentas enxaquecas de que sofria Catarina de Médicis, envia a planta à Rainha. Esta usa-a sob a forma de rapé, com sucesso, e este facto vai ter uma enorme repercussão na divulgação do produto em França e na Europa. Passa a ser chamado de “Pó da Rainha”.
Os médicos começam então a utilizar o tabaco como verdadeira panaceia para todas as enfermidades; os marinheiros promovem a sua divulgação pelos portos e as campanhas militares contribuem fortemente para a sua rápida difusão.
O primeiro cigarro terá sido criado durante a campanha Napoleónica no Egipto, no cerco de Acre em 1799, quando um soldado, tendo ficado sem o cachimbo, decidiu enrolar o tabaco numa folha de papel. Durante a Guerra da Crimeia (1854-1856) o uso do cigarro torna-se vulgar entre as tropas francesas e britânicas. Mais tarde, durante a 1ª Guerra Mundial (1914-1918), a distribuição gratuita de cigarros aos soldados aumenta muito a sua popularidade.
Aceite, incentivado pela publicidade, estimulado pelo marketing da indústria tabaqueira e glorificado pela sociedade, este hábito atingirá dimensões epidémicas.
Apesar da existência de documentos datados já do início do séc. XVIII, escritos por diversos médicos referindo os malefícios do tabaco, só na segunda metade do século XX surgem diferentes trabalhos científicos, entre os quais o de Richard Doll e col. (1951-1991), que demonstram de forma irrefutável que o tabaco provoca cancro do pulmão. Este mesmo trabalho de Richard Doll constituiu um importante marco epidemiológico na fundamentação da relação entre o tabagismo e o desenvolvimento de doença.
Vários outros estudos realizados posteriormente confirmaram os malefícios do fumo do tabaco, quer para o fumador activo, quer para o fumador passivo, levando a Sociedade a encetar um programa de luta antitabágica.
Em 1957 o Tabagismo é reconhecido como uma toxicodepência, de acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde, e em 1996 como uma Doença.
Actualmente estima-se que em todo o mundo 47% dos Homens e 12% das mulheres fumem.
Em Portugal, a percentagem actual de fumadores, entre os 25 e os 44 anos é de 45,7% nos homens e de 17,1% nas mulheres.
Hoje sabemos que o Tabaco é responsável por 85 a 90% dos casos de Cancro do Pulmão e 85% dos casos de Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica, constituindo a principal causa de morte por doença evitável.
Em Portugal, a Luta Antitabágica está ainda no seu início, tendo sido um marco importante a aprovação do Decreto-Lei 32/2007, de 14 de Agosto de 2007.
Campanhas de informação sobre os malefícios do tabaco, a salvaguarda dos direitos dos não fumadores, o investimento na desabituação tabágica e uma lei mais restritiva são, certamente, pontos essenciais no combate a esta epidemia.
Por: Luís Ferreira