O ano de 2010 está a chegar ao fim, foi um ano complicado para a maioria dos portugueses, mas principalmente foi um ano difícil para Portugal.
Os efeitos da crise internacional, aliados à desmedida ganância dos especuladores, fizeram com que este tenha sido um ano que não fica na história pelos melhores motivos. No entanto, o mais preocupante não é o que já passou, são as notícias do que ainda estará para vir.
Ao olhar para o nosso país preocupa-me sobretudo o estado de espírito dos portugueses, esta crise que tanto mal está a fazer às “carteiras” de todos está sobretudo a vencer-nos pela descrença em nós próprios enquanto povo com uma história secular de conquistas e actos memoráveis.
Este estado de desânimo está a fazer pior ao país e aos portugueses do que qualquer especulador que, a partir do seu escritório em Wall Street, decida fazer de nós o seu alvo favorito.
Também a nível local estas questões têm as óbvias consequências, tanto ao nível dos operadores privados, como ao nível dos organismos públicos. Este momento de crise deve ser encarado como um desafio à nossa capacidade de procurar soluções em situações adversas, assim sendo defendo há muito a necessidade de um Novo Plano Estratégico para a Guarda.
O Plano Estratégico da Guarda foi concebido no longínquo ano de 1995. Um documento muito importante à época, mas que se encontra desactualizado. É necessário avaliar o que foi feito, o que ficou por fazer e porquê, do que ficou por fazer, avaliar o que ainda tem interesse ser feito e quais as ideias que se devem abandonar, mas acima de tudo projectar e sonhar um novo concelho com base na nossa realidade actual e nas perspectivas de futuro. Este estudo será de vital importância para todos aqueles que têm intervenção na nossa economia local.
É necessário refazer o trabalho então feito, dotando a Guarda de instrumentos de planeamento estratégicos, expressão de uma ideia de Guarda como cidade dinâmica, pensada para os novos tempos e consciente do seu papel no contexto nacional e regional.
É imperativo que esta discussão seja rigorosa, objectiva, transparente e sem quaisquer tipos de constrangimentos. Que sejam criados mecanismos para que o maior número possível de pessoas se possa envolver nesta discussão.
Um bom exemplo de bem planear a vida do nosso concelho é a Carta Educativa, documento vital no planeamento estratégico da educação. Tal como a Carta Educativa, este documento tem que pensar o concelho como um todo e não só a cidade. Tem que ser um documento onde a grande maioria das pessoas se reveja e que acredite que a sua concretização é possível e consequentemente que conduza a uma melhoria das nossas condições de vida.
Sabemos quem somos, o que temos, como aqui chegámos. Precisamos ambicionar o que queremos ser, o que queremos ter e como lá chegar.
Infelizmente, esta minha ideia, que defendo publicamente há algum tempo, não tem tido o número de adeptos suficiente, ou pelo menos não tem colhido adeptos entre aqueles que poderiam promover esta discussão de modo sério e eficaz.
Numa altura em que acima de tudo é necessário positivismo para ultrapassar as dificuldades que nos esperam, permitam-me que use as palavras do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade para desejar a todos os leitores um bom ano de 2011: «Para sonhar um ano novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre».
Por: Nuno Almeida
* presidente da concelhia da Guarda do PS