A autarquia da Guarda resolveu cortar a luz ao Natal, mas os comerciantes da Rua Direita não quiseram ficar “às escuras” e financiaram a iluminação naquela artéria da cidade.
Mais do que dinheiro, «é preciso ter ideias», afirma Abel Grilo, um dos promotores. Confrontados com o “não” da Câmara à habitual iluminação natalícia, os empresários decidiram utilizar as verbas obtidas no baile de São João para comprar luzes e decorações. Na opinião dos lojistas, apesar da crise, a decoração é «um chamariz», uma maneira de lembrar a quadra e levar as pessoas até ao centro histórico da cidade. Inicialmente, o investimento parecia-lhes demasiado avultado: cerca de 1.500 euros, já que cada arco custaria 250. No entanto, com «imaginação e negociação», foi possível contornar a situação. «Conversámos com pessoas amigas e conseguimos que tudo nos ficasse à volta de 800 euros», explicou Abel Grilo. Este empresário critica precisamente a autarquia por não conseguir ser criativa, numa época de contenção.
O dono de um restaurante na mesma rua tem opinião idêntica. Delfim Perdigão compreende a crise, mas acredita que a Câmara poderia ter feito alguma coisa, ainda que com menos verbas. «Não se pode gastar 60 mil? Gastam-se 10 mil euros. Não colocar nada é que não, porque nós já estamos tão esquecidos», lamentou o proprietário. José Castanheira, outro comerciante, concorda: «Com um bocadinho de boa vontade, a autarquia poderia ter feito uma iluminação, mesmo que mais simples», adiantou. A crise económica faz apertar o cinto e as bolsas, pelo que nesta quadra os comerciantes guardenses não esperam ter melhores vendas que no ano anterior. «A crise de que se fala é grande e nós, pequeno comércio, estamos a pagar mais por ela», considera Aníbal Pinto, proprietário de uma sapataria na Praça Velha.
Mas, mais do que a crise ou a falta de decoração natalícia, é pela falta de estacionamento na zona que os comerciantes apontam uma vez mais o dedo à autarquia: «Sem sítio onde deixar os carros, as pessoas não vêm, estou farto de dizer isso», lamenta o lojista. Para Delfim Perdigão, «esta é a praça do silêncio», um espaço que há 50 anos tinha «uma vitalidade que hoje ainda não conseguiu recuperar».
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Catarina Pinto