Ao longo dos anos, e como consequência dos inúmeros fogos florestais, têm desaparecido, na nossa região, importantes e ricas parcelas de manchas verdes e outrossim de espécies autóctones, sem que tenha havido (pelo menos de forma eficaz, sustentada e gradual), a substituição das árvores desaparecidas
Permanece, assim, numa grande extensão do território do distrito da Guarda o desolador panorama de áreas enegrecidas e agrestes – acentuado com a onda de incêndios das últimas semanas – erguendo os gestos trágicos de uma floresta extinta.
As outrora anunciadas, e rapidamente esquecidas, medidas de reflorestação mostraram, na prática, a inconsistente persistência das intenções oficiais, relegando sempre para os períodos da tragédia a retórica circunstancial das boas e pragmáticas medidas, palavras mortas logo após se apagarem as luzes da ribalta.
E não é difícil fazer o confronto entre o património florestal de ontem e a realidade de hoje, pois as evidências estão ao alcance dos nossos olhares, por mais restritos que sejam alguns horizontes.
É trágica esta falta de intervenção, real e sistemática, como se a floresta e o ambiente não fossem duas importantes e insubstituíveis riquezas do nosso País, onde parece haver, por parte de muitos municípios, um incrível alheamento pela preservação e aumento das zonas verdes, numa contínua cedência às forças económicas locais e regionais.
Em contrapartida, alastra a mancha de betão e perecem muitas das peculiaridades e belezas paisagísticas, resumidas à fotografia de arquivo ou às memórias individuais, impotentes perante a evolução dos tempos; não podemos ficar apenas presos aos grandes projectos de requalificação mas interessa desenvolver uma acção quotidiana e sistemática e global.
É urgente repensar o nosso património florestal e construir novos horizontes, onde o verde seja uma cor associada aos montes e vales desta terra, em que alguns continuam a acreditar, mesmo com a apatia dos poderes. Caso contrário, estaremos a evoluir para uma ainda maior desertificação das nossas aldeias e vilas e a perdemos, gradualmente, um dos poucos bens que as estatísticas nos atribuem: a qualidade do ambiente, também ele sob o efeito de outros perigos.
Neste, como noutros assuntos, importa reavivar as memórias.
No passado dia 3 de Agosto ocorreu a passagem dos 155 anos do Liceu Nacional da Guarda, cujo percurso e historial se materializou na Escola Secundária Afonso de Albuquerque.
O Liceu Nacional da Guarda está profundamente ligado a esta cidade e a sua matriz, pedagógica e cultural, marcou milhares de alunos, de onde saíram diversas figuras de relevo no campo das ciências, da literatura, do ensino, do direito, do jornalismo ou da vida militar.
O Liceu, se por um lado projectou a Guarda, se a converteu numa autêntica força centrípeta educativa, afirmou-se, por outro, ao nível do fomento das vivências académicas, que incrementou durante muitos anos, criando laços estreitos com as tradições estudantis de Coimbra; aliás, diga-se que muitos dos alunos do Liceu Nacional da Guarda tinham como destino, mais lógico, a Universidade coimbrã; um quadro afectivo onde estão associadas múltiplas manifestações, memórias, laços de profunda solidariedade juvenil ou a peculiar irreverência dos estudantes.
Evocar o percurso do Liceu da Guarda desde a sua criação no século XIX, até à disponibilização de instalações definitivas; recordar o trabalho dos seus mentores e obreiros, a determinação e o papel dos reitores e dos docentes que por ali passaram; aludir às suas realizações, experiências pessoais e colectivas; analisar a sua intervenção e inserção no contexto local e regional, é um dever da memória para com esta instituição, cuja obra educativa é, actualmente, assegurada pela Escola Secundária Afonso de Albuquerque.
O Liceu da Guarda marcou, inquestionavelmente, uma época que não pode ser descontextualizada mas antes devida e atentamente estudada, sob o verdadeiro perfil desta escola; escola de formação mas também de vida, elo entre sucessivas gerações.
A realização de eventos, com particular projecção, no interior do país contribui, em larga escala, para uma nova visibilidade destas terras, em relação às quais se podem abrir novos caminhos de desenvolvimento.
Se essas iniciativas tiverem uma calendarização regular, e os apoios indispensáveis, as garantias que oferecem enquanto propulsoras de novos investimentos, de estruturas e de circuitos turísticos assumem maior visibilidade, com as consequentes vantagens, aos diversos níveis.
Por várias vezes aqui deixámos anotada a necessidade de, ao nível local e regional, haver um diálogo e entendimento constantes entre entidades ou instituições, de forma a ser inviabilizada a sobreposição de eventos e alicerçada uma planificação global das múltiplas iniciativas; daqui resultaria não só a rentabilização de recursos mas também uma melhor distribuição de públicos, tantas vezes confrontados com propostas simultâneas, em delimitados espaços geográficos.
Desta desejada, e útil, articulação de esforços e meios beneficiaria, indiscutivelmente, toda a região, face ao alargamento da oferta, com permanência ao longo de todo ano, em função das especificidades ou tradições locais.
No norte do distrito merecem referência os esforços que, ao longo dos últimos anos, têm sido desenvolvidos no sentido de revitalizar a zona de Barca de Alva e o próprio concelho de Figueira de Castelo Rodrigo.
Aliás, é de acentuar o significado da realização, das provas a contar para o Campeonato de Mundo de Motonáutica, precisamente em Barca de Alva; para além de todos os aspectos relativos à competição desportiva, propriamente dita, emergem, claramente, múltiplos benefícios.
A promoção da zona, das suas realidades e potencialidades, é um deles. O importante é equacionar e aproveitar realizações com esta projecção para serem criados marcos referenciais num cartaz concebido, anualmente, para a globalidade da região, numa imprescindível plataforma de cooperação.
Por: Hélder Sequeira