O coordenador da Comissão Florestal do NERGA – Associação Empresarial da Região da Guarda (NERGA) lamenta que as autoridades estejam a difundir a «ideia errada» de que, além da mão negligente ou criminosa, a culpa dos incêndios é dos proprietários não limparem os seus terrenos.
«Eles têm uma quota de responsabilidade, mas por causa de despachos normativos do Estado que emperram o que é preciso fazer e até desmotivam a fazer. Além disso, os apoios, nomeadamente do PRODER, estão parados», critica Hugo Jóia. E exemplifica com o que se passou no Sabugal. «Um ano após o fogo não foi feito um único pedido de pagamento. Depois das candidaturas aprovadas, a sua contratualização e execução são um calvário, pelo que muitas não passam da fase inicial. Por isso, a taxa de execução do PRODER para o sector agro-florestal é reduzidíssima a nível nacional», refere, acrescentando que 2010 foi «o ano em que menos se investiu na floresta». O responsável avisa que estamos perante uma «catástrofe muito grande», pois o já de si escasso coberto florestal do distrito levou mais um rombo. «A conversa é sempre a mesma. Na época de incêndios, a Protecção Civil tem todos os meios possíveis e imaginários. No resto do ano não há recursos para a prevenção, o que temos que fazer para conviver com o fogo, pois faz parte do sistema num país mediterrânico como o nosso», critica.
Nesse sentido, Hugo Jóia considera que a situação vai «repetir-se ciclicamente» enquanto a justiça não tiver «mão pesada» com os incendiários, todos cumprirem a lei e ser feito o cadastro florestal do país. Até lá, considera que é preciso «avançar rapidamente com medidas de mitigação nas zonas ardidas, com brigadas, tipo sapadores, para abate de árvores e criação de zonas de retenção de água». Em termos de prejuízos, fala em «valores incalculáveis» em madeira, ecosistemas destruídos e perda de solo. O Governador Civil da Guarda já solicitou aos autarcas dos municípios mais afectados, como Seia, Gouveia, Almeida ou Trancoso, um levantamento dos prejuízos. «Vamos ter que ser rigorosos. O pior que pode acontecer é alguns receberem sem merecer», adianta Santinho Pacheco, para quem os fogos dos últimos dias ficaram a dever-se a uma conjugação de agravantes, como temperaturas altas, humidade reduzida e ventos fortes.
Além disso, há o abandono dos campos, a desertificação da região e comportamentos criminosos e negligentes.
«Os fogos não vêm do espaço», ironiza, considerando que «os nossos campos são um barril de pólvora». Quanto a soluções, o Governador defende, tal como o Bloco de Esquerda, a constituição de um Banco de Terras com os terrenos abandonados ou cujos proprietários não estão interessados em tratar. Mas também a responsabilização dos donos que não limpam as suas propriedades e fogos controlados na Primavera. «Esta será a oportunidade para fazer o ordenamento que é preciso», considera Santinho Pacheco, que elogiou a actuação dos bombeiros, «homens verdadeiramente profissionais do ponto de vista técnico e da abnegação com que se entregam ao serviço».