P – Na sessão solene do aniversário da Associação fez algumas chamadas de atenção ao Governo e à Câmara da Guarda. Pensa que os bombeiros têm sido esquecidos pelos poderes?
R – Penso que os Bombeiros da Guarda têm sido tratados como todas as outras associações humanitárias. Agora, o que é preciso é fazer-se uma reflexão sobre a forma como as associações humanitárias estão a ser tratadas e visadas, nomeadamente pelo poder central. Isto é, aquilo que defendo é que não se pode focalizar, nomeadamente no reequipamento dos grupos profissionais que têm vindo a aparecer, mas é preciso ver o reequipamento destas associações, que são a base da Protecção Civil e, historicamente, são os seus agentes primeiros. Penso que o congelamento dos planos de reequipamento tem sido uma vertente pela qual se tem pugnado, quer a nível local quer a nível nacional – através da Liga dos Bombeiros Portugueses – e que esse mesmo reequipamento tem que ser retomado.
P – Como está a situação financeira da Associação?
R – A nossa situação financeira está bem, felizmente. Nós pagamos aos nossos fornecedores atempadamente e recebemos o mais atempadamente possível. Temos um atraso por parte da Câmara da Guarda, que não nos pagou a comparticipação de 2008 e de 2009 – também tem dificuldades financeiras -, e está a pagar-nos 2010 de forma pontual desde Março. Não temos fundos para fazer investimentos estruturais, mas temos uma gestão muito cuidadosa e pontual, de “navegação à vista”, que nos permite encarar com tranquilidade as exigências com que nos vemos confrontados diariamente.
P – Ao contrário do que acontece noutras corporações, na Guarda parece não haver falta de voluntários, tendo em conta os jovens que compõem os bombeiros. A que se deve essa adesão?
R – Esta adesão de jovens tem a ver com o espírito que se vive dentro dos Bombeiros da Guarda, com um clima de respeito, mas de à vontade, e sobretudo, tem a ver com uma preocupação que existe, a todos os níveis, de transmitirmos que lá dentro são todos iguais. Não obstante o respeito pelas diferenças, todos nos merecem o mesmo respeito, e vive-se naquela casa um ideal de formação, que é um ideal apelativo. Os jovens, que estão muito abertos à formação, vêm ali um bom espaço de convívio e de realização pessoal, sendo certo que o fazem sempre dentro deste grande critério de anonimato, que é o vector maior do voluntariado associativo.
P – Acha que o papel dos bombeiros voluntários tem sido desvalorizado nos últimos anos?
R – Quando os bombeiros não são precisos, é desvalorizado, quando são precisos, são os mais valorizados. Nós somos os “guarda-redes” da sociedade, porque, quando falha tudo o resto em termos de socorro, são chamados os bombeiros. Nós somos latinos e “só nos lembramos de Santa Bárbara quando troveja”, e eu penso que, pese embora em termos discursivos e oratórios se fazerem grandes laudos aos bombeiros, a verdade é que, na prática, nem sempre a sociedade dá a atenção que as associações humanitárias e os bombeiros voluntários merecem.
P – Que prenda gostaria de ter recebido neste aniversário?
R – Eu disse publicamente que não falava de uma necessidade que a Associação tem, que é uma viatura de fogos urbanos, porque na minha idade ainda não me quero tornar repetitivo. Agora, a maior prenda que poderíamos ter no aniversário é o facto de termos muitos jovens incorporados, de termos um corpo de bombeiros a crescer e, sobretudo, de não haver acidentes nem lesões pessoais. Tudo o resto são necessidades materiais que pretendemos ver satisfeitas e que esperemos que, mais tarde ou mais cedo, sejamos contemplados com um bafejo de atenção por parte de quem de direito, e que nos dê a possibilidade de termos o que estritamente precisamos.