Álvaro Guerreiro não queria falar e repetir «o que vem dizendo há muitos anos» acerca dos problemas que afectam os bombeiros da Guarda, mas acabou por fazê-lo na sessão solene dos 134 anos da Associação Humanitária, comemorados no passado domingo.
De uma assentada, referiu-os um por um para que não fossem esquecidos: «Não vou falar do esforço que fazemos para, não obstante a situação local e nacional, continuarmos a pagar pontualmente aos nossos assalariados e credores, não vou falar do não pagamento pela Câmara da comparticipação orçamental referente a 2008 e 2009, não vou falar da necessidade imperativa de ser redefinido o financiamento das associações humanitárias, não vou falar do que representa para as associações de voluntários a cegueira estatal em apoiar primordialmente estruturas profissionais, mandando para as urtigas o reequipamento dos voluntários, não vou falar do QREN para as viaturas de Lisboa porque, certamente, que quem decide ainda está convencido que o resto é paisagem», disse. Foi quanto bastou para o presidente da direcção da Associação Humanitária – que anunciou que vai abandonar o cargo no final do mandato – obter uma estrondosa salva de palmas e a concordância de Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, e de Gil Barreiros, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda.
Este último, sublinhou mesmo que «um dos males dos bombeiros é não exigir, só damos. Parece que não temos direitos e que temos vergonha de pedir», disse, denunciando a «instabilidade» criada com as alterações legislativas «que foram aplicadas de forma extremamente rápida» a partir de 2007. Gil Barreiros desafiou ainda Duarte Caldeira a «consolidar a estrutura de bombeiros a nível nacional, distrital e concelhia para que possamos estar mais organizados e mais actuantes». O presidente da LBP apontou o pedido e garantiu que os bombeiros portugueses são «os principais responsáveis para que não se repitam este ano, o que se passou em 2003 e 2005. Todas as condições potenciais estão cá outra vez», lamentou, referindo-se à falta de limpeza da floresta e à desertificação do interior. «Os incêndios florestais são o reflexo disso», disse, lamentando que continue por fazer «uma discussão profunda sobre a sua dimensão eco, social e cultural, bem como o estado dramático a que chegou».
Duarte Caldeira não estranha, por isso, que seja «quem está no fim da linha [os bombeiros] a levar com todo o ónus do que está a montante. Foi assim em 2003, em 2005 e só não será assim este ano porque nós, ao contrário de outros, aprendemos com essas catástrofes», declarou. Discursos à parte, a cerimónia ficou marcada pela atribuição do “cracha” de ouro da LBP ao comandante Luis Santos e ao segundo comandante António Morais, considerados «exemplares na arte de saber comandar, que é hoje uma missão espinhosa, difícil e exigente». Ambos receberam também a medalha de ouro da Associação Humanitária pelos seus 35 anos de serviço, num dia em que uma dezena de voluntários mais novos receberam as suas primeiras insígnias.
A propósito do aniversário, o grupo de resgate dos Bombeiros da Guarda realizou no sábado uma demonstração de técnicas de resgate na Sé. «No caso de doença súbita ou queda de algum turista na cobertura da Catedral esta será a única forma de o retirar do local porque os acessos interiores não permitem fazer esse resgate», explicou Paulo Sequeira, adjunto do comando. O grupo é composto por 16 elementos e coordenado por Hugo Teixeira. Actualmente, esta unidade carece de equipamentos de protecção individual para o Inverno e materiais de desgaste, como as cordas.
Luis Martins
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