Na última quinzena de Julho arderam no distrito da Guarda 1.765 hectares, qualquer coisa como mais de 12 vezes a área ardida registada entre Janeiro e meados do mês passado (142 hectares). O relatório provisório da Autoridade Florestal Nacional (AFN), divulgado na semana passada, revela que as chamas já consumiram 1.907 hectares este ano e que este aumento brutal fica a dever-se a três grandes incêndios, o mais grave dos quais consumiu 650 hectares em Naves (Almeida) a 27 de Julho.
A base de dados nacional de incêndios florestais contabiliza entre 1 Janeiro e 31 de Julho uma área ardida total de 19.346 hectares no país e aponta como causas principais a onda de calor que se fez sentir na última semana do mês passado, o vento e os baixos índices de humidade. Em consequência, dispararam as ignições e a área ardida, «muito embora os valores se mantenham bem abaixo da média dos últimos anos», sublinha a AFN. No distrito da Guarda houve 57 incêndios florestais, 91 fogachos (área inferior a um hectare), num total de 148 ocorrências de que resultaram 56 hectares de povoamentos ardidos e 1.851 de matos, ou seja 1.907 hectares. Em termos comparativos, Castelo Branco registou apenas 157 hectares ardidos e Viseu 1.082. Já os distritos mais afectados nos primeiros sete meses de 2010 foram Aveiro (4.131 hectares), Viana do Castelo (3.132) e Braga (2.572).
Por cá, três incêndios foram responsáveis por cerca de 87 por cento da área ardida no distrito. O primeiro lavrou na Bendada (Sabugal) a 26 de Julho, tendo consumido 610 hectares de mato. No dia seguinte aconteceu aquele que é, até agora, o maior fogo que registado na região. As chamas mantiveram os bombeiros ocupados durante todo o dia de 27 de Julho e consumiram 650 hectares, maioritariamente de mato. Julho despediu-se com 402 hectares ardidos em Aldeia Nova (Trancoso). O que é certo é que estes dados são bastante inferiores aos de anos anteriores. «Há 10 anos o número de ignições ultrapassava as duas mil por ano. Em 2009 foram 1.400, mas em 2008 e 2007 foram menos de mil. Podemos dizer que, em média, caíram para metade», adianta António Fonseca, comandante operacional distrital. Na sua opinião, esta redução fica a dever-se a uma melhor organização dos agentes de protecção civil e ao ataque inicial aos fogos.
Já na passada segunda-feira, em Gouveia, o ministro da Administração Interna considerou que o país tem hoje «um dispositivo da Protecção Civil melhor, mais coerente e com várias valências», o que faz com que «apesar dos factores climatéricos, que não controlamos», a área ardida seja menor que em 2003 e 2005. Rui Pereira esteve reunido com os corpos de bombeiros do distrito para fazer o ponto da situação e manifestar o seu «reconhecimento a todos os elementos da Protecção Civil pela competência e bravura» no combate aos fogos florestais. «Continuo a dizer que temos um dispositivo preparado, que está a combater os incêndios com confiança e coragem, apesar das condições serem extremamente adversas», disse aos jornalistas após a reunião.
Luis Martins