A notícia que tem marcado as últimas duas semanas na Guarda é, sem dúvida, o fecho da Delphi. É uma notícia preocupante que não deixa ninguém indiferente.
Como em qualquer situação em que existam pessoas que são prejudicadas, aparecem logo políticos irresponsáveis a tentar tirar partido da situação. Irresponsáveis, porque nunca se cansam de perguntar “o que fizeram?”, mas nunca dizem “O que fizemos”. Nunca o dizem porque nunca fizeram nada. Nunca fizeram nada para ajudar a Delphi, os seus trabalhadores ou qualquer outra empresa do concelho que esteja ou tenha estado na eminência de fechar as portas. É fácil apontar o dedo aos outros, o difícil é fazer e, nesse capítulo, a história é implacável.
Nos dias que correm, onde a criação de novos postos de trabalho é uma tarefa quase inatingível e a manutenção dos existentes se revela uma tarefa árdua, preocupa-me sinceramente o fecho da Delphi.
A intervenção do presidente da Câmara da Guarda foi fundamental para que a multinacional Delphi não tivesse encerrado a fábrica da Guarda no ano passado, como aconteceu com a fábrica de Ponte de Sor. Tentou encontrar-se uma estratégia que permitisse ganhar tempo de forma a angariar novos contratos e, consequentemente, manter viável a manutenção da fábrica. Infelizmente, o mercado automóvel não melhorou e a estratégia não alcançou os seus objectivos.
Muitos perguntam “Mas porque fecha a fábrica da Guarda e não a de Castelo Branco?”. A pergunta é pertinente, mas só os responsáveis da empresa têm a resposta. Quem atribui culpas à actuação, ou falta dela, do presidente da Câmara deveria antes de mais esclarecer como teria actuado. O que teriam feito? Como teriam obrigado uma multinacional a manter aberta uma fábrica contra a sua vontade? Confesso que tenho muita curiosidade acerca das respostas a estas perguntas.
O que fazer? Baixar os braços? Esperar que a solução caia do céu? Claro que não, é preciso lutar contra o fatalismo, com inteligência e com perseverança. É o que tem sido feito, por alguns. Veja-se o caso da Dura, onde um significativo investimento prevê a criação de um considerável número de postos de trabalho. Curiosamente, ou talvez não, não me apercebi de conferências de imprensa a enaltecer o facto. Não me apercebi, porque os profetas da desgraça, tal como as aves necrófagas, só aparecem para tirar partido da desgraça dos outros.
Precisamos de medidas por parte do Governo da República que permitam tornar o interior atractivo para os investidores. Para tal deixo aqui uma ideia:
A criação de um regime especial de IVA, tal como acontece nas regiões autónomas. Esta medida permitiria ganhar competitividade em relação às zonas mais industrializadas do país. Esta medida permitiria ainda ganhar competitividade em relação às regiões espanholas de fronteira, com a vantagem adicional de diminuir a quantidade de divisas que diariamente se perderem nas transacções comerciais.
O país não pode continuar a desenvolver-se a várias velocidades como tem feito, as assimetrias ao nível dos índices de desenvolvimento e de densidade populacional demonstram as opções erradas que os sucessivos Governos têm tomado ao votarem ao abandono a faixa interior do país.
Como diz o povo: “Os cães ladram e a caravana passa”, o importante é garantir que esta caravana que dá pelo nome de Guarda nunca pare por muito que ladrem os cães, sendo certo que a velocidade nem sempre é a desejada.
Por: Nuno Almeida *
* presidente da concelhia do PS da Guarda
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