A crise no país está a preocupar os agentes empresariais de Trancoso, para quem as recentes medidas aprovadas pelo Governo para combater o défice, que englobam, entre outras, o aumento do IVA, poderão contribuir para o agravamento da situação.
«Naturalmente que me sinto preocupado», revela o presidente da AENEBEIRA – Associação Empresarial do Nordeste da Beira. Apesar de considerar que, «porventura, não haveria qualquer alternativa a esse caminho», António Oliveira adianta que «este aumento da carga fiscal sobre os consumidores terá um efeito negativo no consumo das famílias e, consequentemente, na retoma da actividade económica». Recorde-se que o Governo já aprovou algumas medidas de modo a diminuir o défice e controlar o crescimento da dívida pública. Assim, o IVA passa para 21 por cento, voltando ao valor anterior. No IRS foi estabelecida uma tributação adicional sobre o rendimento das pessoas singulares de um aumento de um ponto percentual nas taxas aplicáveis até ao terceiro escalão de rendimentos e uma subida de 1,5 pontos percentuais a partir do quarto escalão, e ainda um aumento de 1,5 pontos percentuais das taxas liberatórias.
O impacto desta medida é de 0,6 pontos percentuais até 2011. No IRC, com as novas medidas terão um impacto de 0,3 pontos percentuais. António Oliveira defende que «consumimos muito mais do que aquilo que produzimos, o que levou a que os mercados financeiros se recusassem a financiar o país e isso colocou-nos quase à beira da bancarrota». O responsável admite que, em Trancoso, tal como no resto do país, «a situação já não era brilhante e o aumento da carga fiscal sobre os cidadãos naturalmente que dá reflexos negativos sobre a actividade empresarial nos tempos mais próximos e porá em causa qualquer processo de recuperação». O presidente da AENEBEIRA admite mesmo que poderá indiciar «alguma aceleração da recessão económica».
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Opiniões…
Comerciantes da feira:
P – Sente diferenças significativas no volume de negócios deste ano comparativamente a anteriores?
Paulo Santos:
Benvende
Comerciante – Ferramentas agrícolas
«Nota-se muita diferença ao nível do poder de compra dos consumidores. Antigamente as pessoas ainda compravam artigos para decoração, agora só compram o mínimo indispensável. A crise chegou a Trancoso, apesar de aqui se ter a vantagem do cultivo para consumo próprio».
Luís Chaves:
Valdujo (Trancoso)
Comerciante – Cestaria e peças de mobiliário em madeira
«A crise chegou a Trancoso e já não é de agora. Notamos que o negócio não se faz, cada vez está pior e vemo-nos mesmo aflitos para sobreviver. Se assim continuar, teremos que fechar as portas, porque não há hipótese. Há menos gente, temos feiras em que fazemos entre 15 a 30 euros, nem chega para o combustível».
Clientes:
P – Sente que há menos poder de compra relativamente a outros anos?
Luísa Dias:
Vila Franca das Naves
Funcionária de empresa de logística
«Penso que a situação está muito complicada ao nível do poder de compra dos consumidores. Muitos comerciantes queixam-se que as pessoas não compram tanto e 10 euros pode não parecer muito, mas para os tempos que correm, é dinheiro. Há menos pessoas na feira e já não se compra como antigamente, mas apenas aquilo que é mais essencial. O Governo tem que fazer qualquer coisa, que isto não pode continuar assim».
Deolinda Pena:
Trancoso
Escriturária
«Noto muita diferença deste ano para os anteriores ao nível do movimento de pessoas a comprarem produtos na feira. Mesmo em termos dos comerciantes, nota-se que são menos. Esta situação é má para Trancoso, porque corremos o risco da feira acabar, o que vai fazer com que o movimento na cidade também diminua. Para tentar melhorar a situação podia-se pavimentar o mercado, que, em terra batida, também não é muito agradável e as pessoas também podem vir menos por isso».
Comerciantes de Trancoso:
P – O comércio tradicional em Trancoso é afectado pela actual crise?
António Matos
Mini-mercado “Décio e Matos”
«A crise que se fazia sentir há anos pouco avançou, até porque a situação já não era fácil. Agora, claro que se nota uma diminuição da procura por parte das pessoas. À medida que o tempo avança, a situação piora. Há menos poder de compra e as pessoas compram só o essencial».
António Saraiva:
Pronto-a-vestir “Loja do Povo”
«Isto está muito mal. Nunca vi uma época como esta e estou no comércio há mais de 60 anos. Há menos gente a comprar, até porque o concelho de Trancoso está despovoado. A mudança da feira para a sexta-feira também foi a pior coisa que se podia ter feito para o comércio da vila, porque as pessoas estão a trabalhar e quem não trabalha não tem dinheiro para comprar. As pessoas compram só o que vai havendo de mais barato».