«Não queremos que sejam regiões como a nossa as reféns do défice e a ter de hipotecar o seu desenvolvimento», pediu, no sábado, o presidente da Câmara de Seia ao ministro das Obras Públicas a propósito do adiamento da construção das estradas previstas na concessão da Serra da Estrela.
Numa sessão sobre desenvolvimento sustentável promovida pelo Governo Civil da Guarda, Carlos Filipe Camelo voltou a reclamar a concretização dos itinerários complementares (IC) 6, 7 e 37, mas António Mendonça não se comprometeu e repetiu o que já tinha dito. «O Governo não desistiu desta concessão, adiou-a apenas, pois temos que nos adaptar ao momento que o país está a viver. No entanto, se não podemos fazer tudo, temos que fazer o essencial dentro do que é possível», afirmou. O governante justificou ainda que a conjuntura «exige selectividade relativamente aos investimentos que têm impactos económicos significativos e gerem empregos», mas não disse se é o caso destas estradas reivindicadas desde os anos 90 na corda da Serra. Sinal de que o assunto está longe de ficar esquecido, alguns elementos do MAIS – Movimento de Apoio à Construção dos Itinerários Complementares da Serra da Estrela entregaram ao ministro uma missiva em que manifestam o seu «profundo desagrado» pela decisão do Governo. «Há zonas do litoral que já têm tudo; a nós faltam-nos estas estradas para nos ligar aos grandes centros», lê-se no documento.
«Não aceitamos que agora, ao fim de 30 anos de atraso e das expectativas criadas, se suspenda a execução destes traçados, que são vitais para o desenvolvimento desta região», argumentam ainda. Entretanto, o movimento já recolheu mais de 2.500 assinaturas contra a decisão do Executivo retirar das suas opções governativas a construção dos IC6, 7 e 37. Carlos Filipe Camelo insistiu no problema, sublinhando que a notícia de suspender, por causa do défice, novos acessos que liguem o concelho e a região aos principais eixos rodoviários do país é «um rude golpe no seu desenvolvimento» que poderá pôr em causa «as expectativas entretanto geradas em torno de novos investimentos na área do turismo». Para o autarca de Seia, haverá a possibilidade de se fazerem cortes na despesa «muito mais eficazes», nomeadamente em regiões que apresentam actualmente níveis de desenvolvimento «idênticos aos da média comunitária».
Por sua vez, o Governador Civil da Guarda considerou que a Serra da Estrela teve «vários azares» no domínio das acessibilidades, desde logo quando o Plano Rodoviário Nacional de 2000 «ensanduichou» a região entre a A23 e a A25. De resto, também recordou que, por causa disso, cidades como Seia e Gouveia deixaram de ser «a porta de entrada na Serra da Estrela, que passou para o lado de lá». E Santinho Pacheco acrescentou: «Esperámos pacientemente pela concretização dos IC’s reivindicados há muito tempo, mas não queremos deixar cair os braços, apesar de sabermos dos problemas do país».
Luis Martins