Foi uma grande alegria sentir a reaproximação dos católicos portugueses a um Papa que os media tinham sempre apresentado como frio e cerebral, longe do contacto humano. Eu vi o sorriso do Papa. A Igreja promove o bem-estar social, a educação, a formação, a luta contra a pobreza e a miséria. Não se impõe… este foi um dos grandes alertas deixados.
Antes, o seu discurso de aparente abertura e diálogo parecia não colar com aquilo que tem sido a sua trajectória, em especial enquanto Cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Não foi ele que afastou teólogos de nomeada que ousaram defender a renovação da Igreja, como Hans Kung, Leonardo Boff e outros? Não foi ele que colocou obstáculos e mais obstáculos aos avanços hermenêuticos da Comissão Bíblica? Não foi ele que, já como Papa, chamou de novo a Sociedade Sacerdotal Pio X, cujo fundador foi Monsenhor Lefebvre, teólogo ultra-conservador e opositor ao Concílio Vaticano II?
Mas na sua visita a Portugal referiu que o quadro antropológico, cultural, social e religioso da humanidade alterou-se – hoje, a Igreja é chamada a enfrentar desafios novos e está pronta a dialogar com culturas e religiões diversas, procurando construir juntamente com cada pessoa de boa vontade a pacífica convivência dos povos. E, sendo assim, como entender o documento oficial do Vaticano – Dominus Iesu? Aliás, documento assinado pelo então Cardeal Ratzinger. É nesta espantosa diversidade que a Igreja viveu e cresceu ao longo dos últimos anos. Não obstante, não nos podemos esquecer dos já cinco anos de pontificado exemplar de Bento XVI. Ao fechar esta visita ficarão para sempre gravadas estas palavras de verdade – a Igreja nada impõe, só propõe. Quem quiser vir…
Depois somos acordados para a realidade com a notícia que os analistas, os economistas e os políticos em geral antecipavam há algum tempo: confirmou-se, finalmente, a subida dos impostos. Daniel Bessa já tinha avisado: «A trajectória de redução do défice público tem de ser acelerada. E tem de começar rapidamente. Vai doer? Muito». Das famílias às empresas, dos mais pobres aos mais ricos, dos desempregados aos próprios políticos, ninguém escapa às medidas impostas pelo Governo, com a co-responsabilização do PSD, para tentar corrigir o desequilíbrio das finanças públicas e o cumprimento das metas impostas por Bruxelas. Os portugueses vão passar a pagar mais por todos os produtos que consumirem, vão ter os seus salários diminuídos e as empresas terão menos lucros. Parece que de um momento para o outro tudo mudou. A convicção de que o crescimento económico dependia da implementação das grandes obras públicas, como o novo aeroporto, o TGV, a terceira travessia do Tejo, já não existe, tudo terá que ser de novo estudado e esperar por novas oportunidades de índole financeira.
O sr. primeiro-ministro voltou a dar o dito por não dito e com a sua capacidade de adaptação só nos veio dizer o que era inevitável. E teve companhia nesta sua nova etapa de governação. Também em menos de dois meses tudo mudou na cabeça do líder da oposição. Pedro Passos Coelho dizia em 25 de Março: «Não ajudarei a viabilizar propostas de aumentos de impostos»; em 21 de Abril: «Ao invés de aumentar os impostos para conseguir a consolidação orçamental, o Governo deveria eliminar a despesa pública que não é essencial». Na semana passada fomos prendados com um pedido de desculpas. É óbvio que o PSD está a ser arrastado para essa situação e não sobram dúvidas que os custos desta politica económica errada hão-de ser cobrados nas próximas legislativas.
Por: Cláudia Teixeira