No blogue “Ilíada Benfiquista” há uma entrada assim: “Ontem vi Jesus. Para quê ir hoje ver o Papa?” Noutros blogues, recorda-se o velho slogan “fado, futebol e Fátima”, em que o fado já não se canta senão em refrãos de impostos e de crise. Noutros ainda, fazem-se contas: quanto custará a tolerância de ponto do dia 13, associada à ponte de 14 e às outras pontes deste ano? Um por cento do PIB, o mesmo que o governo pensa arrecadar com o mais que previsível aumento de impostos? Não fiz as contas. Prefiro, provisoriamente, acreditar que a vitória do Benfica e a pausa papal (mais aliterações) farão bem, ao menos à moral dos que sabem precisar de trabalhar.
Mas não devemos cair na tentação de sobrevalorizar o que tudo isto tem de bom, e refiro-me ao Benfica. No “I”, dizia Hugo Gonçalves, numa das suas extraordinárias crónicas (Sobre a felicidade): “O Benfica foi campeão. No dia seguinte, o ministro falou de aumento de impostos. Felizmente, a memória emocional é selectiva. Só um destes factos ficará para a história.” Hugo Gonçalves não tem razão, que a nossa memória não vai associar os dois factos e vai recordá-los separadamente, como se tivessem ocorrido em momentos diferentes no tempo. Talvez essa subida de impostos seja mais tarde associada ao momento em que teremos de compensar a ponte propiciada pelo Papa (agora exagerei), e não à semana em que a glória benfiquista se viu abrilhantada com o mau perder do Braga e do Porto. Dizem os bracarenses que o Benfica jogou um terço do campeonato contra dez, referindo-se aos muitos jogadores expulsos em jogos do agora Campeão Nacional pela 32ª vez (como gosto de escrever isto!). Isto é o equivalente ao anúncio de aumento de impostos pelo ministro das Finanças mas, felizmente, neste caso não é para levar a sério: os que foram expulsos contra o Benfica não mereciam continuar em campo e a sua expulsão foi consequência, e não causa, do bom jogo do campeão. Desculpem-me bracarenses e portistas pela aparente impermeabilidade da afirmação, mas pura e simplesmente não sei transpor isto para linguagem de grunho. Alguma dúvida, peçam a um amigo benfiquista que vos explique – não a mim, que apenas disponho do breve espaço desta crónica e tenho outras coisas a dizer.
É só mais isto: nesta semana extraordinária, que ainda vai a meio, foi uma dúzia de antigos ministros das finanças visitar o agora Presidente da República, ele próprio antigo ministro das finanças. À saída, como à entrada, não vinham descalços e com uma corda ao pescoço. Não rasgaram as vestes e não arrancaram os pelos da barba. Não propuseram também, ao menos publicamente, uma medida concreta que fosse.
Por: António Ferreira