Conhecemos a história da Covilhã no seu melhor e no seu pior, deste os tempos pródigos da evolução industrial e o êxodo das aldeias para a cidade, até aos períodos de crise e as saídas massivas para a emigração. As movimentações operárias que em vários períodos da história encheram páginas e foram, mesmo no tempo da censura, noticia nos órgãos de comunicação nacional. Assim como foi a Covilhã sempre entusiasta e acolhedora para quem a visitou, desde os chefes de Estado aos outros líderes da nação.
Ao longo dos seus 140 anos, as ruas da cidade e o pelourinho encheram-se muitas vezes, por diversos motivos.
Contava o meu avô que na década de 1940, as ruas se enchiam em contestação e que o Governo mandava GNR a cavalo vinda de Lisboa e Castelo Branco, para dispersar os manifestantes. “A CP pôs comboios especiais que vinham para a Covilhã carregados de guardas e cavalos e regressavam para Lisboa com os presos políticos” dizia-me.
Conta o meu Pai que, das maiores movimentações que se lembra na Covilhã, foi a vinda a esta cidade do General Humberto Delgado, na sua campanha eleitoral. “Eram rios de gente a aplaudir que surgiam de todas as ruas e confluíam para o Pelourinho e o largo do Posto da Policia, mas depois dele passar chegava a guarda a cavalo e carregava no pessoal para dispersar”, diz o meu Pai.
Eu ainda me lembro dos dias posteriores ao 25 de Abril de 1974 e do dia primeiro de Maio desse ano. Desde o Jardim público até ao pelourinho, era gente e gente, as ruas apinharam-se de pessoas de todas as idades, com cravos vermelhos, bandeiras de todos os partidos e cartazes com todo o tipo de dizeres.
Também me lembro daquela concentração em 1970 para receber o então presidente da Republica, Américo Tomás, todos com bandeirinhas nacionais de papel previamente distribuídas pelo pessoal. A qual, por acaso, é a única e mais apresentada na exposição fotográfica que se ostentava neste dia 1º de Maio no pelourinho da cidade.
Não percebi os critérios da escolha para esta apresentação e quando questionei o funcionário municipal ali de serviço, disse que se tratava de uma história do Pelourinho Municipal, mas também não sabia explicar o porquê destas fotografias.
Se a intenção era retratar os 140 anos de cidade da Covilhã, o que se vê na exposição, para além de redutor, é tendencioso e fascista. É um atentado à educação das novas gerações. As imagens são reais, mas mostrar a Covilhã, apenas pelo que ali está exposto é reduzir a história da cidade a um período da história do País, que apenas representa 48 anos da sua história com a promoção de um regime, no qual nem os actuais autarcas tinham espaço politico…digo eu…
O 1º de Maio organizado pela União dos Sindicatos de Castelo Branco, não foi muito mais feliz:
Sabemos que já vão distantes os tempos em que o operariado, sobretudo têxtil, se concentrava em festa e piquenique no Parque da Floresta e ao fim da tarde enchia a estrada da Serra em desfile até ao pelourinho. Aqui as comemorações culminavam com grande comício e espectáculo.
Os tempos são outros, nem o operariado tem a expressão de outrora, nem as organizações sindicais têm a mesma capacidade de mobilização, mas reduzir a expressão do 1º de Maio àquilo que se assistiu nesta tarde no Pelourinho, para além de desvirtuar o sentido e expressão do dia do trabalhador, é reduzi-lo a um evento estereotipado, igual ao 10 de Junho ou 1ª de Dezembro, onde tudo serve para justificar o palco, o som e o discurso, em muitas frases igual e repetido nos últimos 20 anos.
Um conjuntozinho de baile com “bem constituídas” bailarinas, propunha-se a animar um bailarico igual ao de qualquer aldeia nas romarias populares. Quim Barreiros, Emanuel, Zé Malhoa, Roberto Leal e Marco Paulo, foram aqui reproduzidos até com algum rigor, num reportório dançante, mas sem pares para dançar. Pois nem o local, nem a disposição dos assistentes era para isso, apenas o abanar da perninha de alguns dirigentes sindicais, satisfeitos no cumprir de calendário, de mais uma actividade para por no relatório sindical.
Podemos até discutir se há dois anos Pedro Barroso foi mais ou menos caro e se teve mais ou menos gente. Mas não discutiremos a qualidade entre uma coisa e a outra, assim como a utilização do dinheiro dos trabalhadores num produto cultural ou num produto piroso.
Num concelho com 31 freguesias, tão rico em tradições culturais, com tantos grupos, musicais, etnográficos e folclóricos. Mesmo que não houvesse dinheiro para uma estrela da rádio TV e disco, haveria concerteza condições para uma festa mais popular, como aliás demonstrou a breve actuação do grupo de bombos que ali foi.
Esperava das organizações sindicais uma festa mais genuína e coerente com o simbolismo do 1º de Maio e com as tradições da terra e a vida dos seus trabalhadores.
Uma festa mais popular e menos populista, se calhar até mais gente teria e mesmo que não tivesse, seria mais congruente e menos pirosa.
JHS, carta recebida por mail