Portugal é um país de rotundas. Servem para colocar no meio fontes luminosas e estátuas, para obrigar a diminuir a velocidade, para poupar dinheiro em túneis e passagens desniveladas, para gastar mais uns trocos antes das próximas eleições autárquicas.
Com tanta rotunda, convinha ensinar aos condutores como circular nelas, mas não parece fácil. As opiniões dividem-se, sobretudo entre duas grandes correntes, e não esperem agora meias palavras ou formas diplomáticas de abordar a questão: há a maneira preguiçosa e estúpida de enfrentar a coisa e há a maneira natural e lógica de o fazer.
O que muita gente faz, chamando-lhe condução defensiva, é circular por toda a rotunda pelo lado de fora até chegar à saída que pretende. Fazendo isto, nunca corre riscos, que nunca pode haver alguém pela direita que o impeça de chegar ao destino. Contam-se até histórias de terror de condutores que entraram na rotunda do Marquês de Pombal, em Lisboa, e continuaram lá durante horas, até acabar a gasolina, por não terem seguido aquele método. Este, porém, tem vários e evidentes defeitos. Antes de mais, se toda a gente o seguisse em rotundas com mais do que uma faixa, as faixas interiores não teriam utilização e provocavam-se engarrafamentos monstruosos – imagine-se o Marquês de Pombal, em Lisboa, ou a Boavista, no Porto, com uma grotesca fila de quilómetros para entrar na faixa da direita da rotunda. Outro defeito é que iria haver muitos mais acidentes, considerando que nem todos os condutores são tão imbecis como os que circulam apenas pela direita e, por isso, quando se aproximam da sua saída, inflectindo para a faixa mais à direita imediatamente antes da mesma, acabarão por embater nos cretinos que, não tendo saído já, continuam na sua estúpida trajectória.
Como fazer então? Ao entrar na rotunda deve saber onde sair. Se quiser fazê-lo na última saída disponível, deve ir quanto antes para a via mais interior da rotunda, aproximando-se da periferia conforme se aproximar do destino, confiando entretanto em que os outros condutores façam o mesmo. Se o fizerem, a faixa da direita vai ficando disponível para si à medida que passa pelas sucessivas saídas antes do seu destino, saídas utilizadas pelos condutores que circulam à sua direita, onde apenas deve chegar, e isto é muito importante, imediatamente antes da sua saída. Direita, a palavra mágica. Em Portugal, como a legislação não é suficientemente clara, há quem considere que, se circular sempre pela direita e tiver, por isso, sempre a prioridade, nunca será responsável por um acidente, mesmo que seja ele a provocá-lo, circulando estupidamente, provavelmente babando-se, pela direita numa rotunda.
O pior de tudo isto é que parece não haver solução. Não se está a criar uma nova geração de condutores, sabedora de como se deve conduzir nas várias faixas, com fonte luminosa do lado de dentro, que compõem uma típica rotunda. E não se está a criar essa nova geração de condutores porque continuam a ser ensinados a conduzir mal nas escolas de condução.
Por: António Ferreira