Os pedófilos e violadores apresentam fortes défices de memória, atenção, concentração e funções executivas e ainda alterações estruturais ao nível do corpo caloso, parte do cérebro por onde passa muita da comunicação inter-hemisférica. As conclusões estão numa tese de doutoramento da autoria de Pedro Pombo, actual Provedor do Estudante da Universidade da Beira Interior (UBI) e ex-inspector da Polícia Judiciária da Guarda, baseado em ressonâncias magnéticas e testes neuropsicológicos realizados a 13 reclusos que estão a cumprir pena no estabelecimento prisional da cidade por crimes sexuais.
O estudo, intitulado “Abusadores sexuais. Uma perspectiva neuropsicológica”, é inédito em Portugal e foi feito no âmbito do doutoramento em Neuropsicologia Psicobiologica que Pedro Pombo está a terminar na Universidade de Salamanca. O objectivo do investigador, que até Setembro do ano passado era inspector da Judiciária, foi estudar as relações entre o cérebro e os processos cognitivos emocionais e de comportamento, associando a violência aos défices neuropsicológicos. Dos 14 homens a cumprir pena na Guarda por este tipo de crimes, apenas um não quis entrar no estudo. «Eles sentiam que o comportamento era errado e quiseram saber se efectivamente tinham algo diferente», adianta Pedro Pombo, ao explicar que foram feitos vários testes simples, conhecidos no mundo da neuropsicologia – como o Desenho do Relógio de Nuria, onde se pede apenas que se desenhe um relógio com os dígitos de 1 a 12, ou o Trail Making Test, em que se requer a ligação de pontos respeitando sequência de números e/ou letras.
O investigador destaca ter ficado demonstrado que, apesar de não haver dúvidas de que sabem distinguir o bem e o mal, os indivíduos em causa «não conseguem controlar os impulsos» e que «alguns se fixam nos pormenores», o que significa que «olham para a criança não como tal, mas como objecto sexual». A maioria dos participantes na investigação está ligada aos sectores da agricultura e construção civil, têm entre 25 e 51 anos de idade e possuem, em média, o 5º ano de escolaridade. Ao estudo juntou-se o neuropsicólogo Luís Maia, também docente da UBI. Segundo este especialista, as ressonâncias magnéticas mostram que «há diferenças estruturais significativas ao nível do corpo caloso» quando feita a comparação com o cérebro das pessoas «ditas normais». Luís Maia diz que «basta olhar para os exames» para o perceber, sendo que pretende agora aprofundar esta vertente da investigação. «Neste momento, só precisamos de um “software” específico para essa área cerebral, para um estudo volumétrico», explica, ao adiantar que vai procurar este equipamento no estrangeiro.
Luís Maia refere que, ao cruzar os resultados das ressonâncias magnéticas com os dos testes, conclui que «é surpreendente que, do conjunto dos 13 [homens], 12 estão clinicamente afectados neuropsicologicamente». Ao salientar que «não são inimputáveis», o especialista refere que os défices de memória, atenção, concentração e funções executivas acabam por «manifestar-se na personalidade» dos indivíduos, que geralmente sentem «mais irritabilidade, necessidade de satisfação das suas necessidades, incapacidade de resistir à frustração e necessidade de satisfação imediata do desejo». O docente da UBI considera ainda que os condenados por abusos sexuais devem «ser acompanhados», já que os números dizem que 20 por cento acaba por reincidir nos crimes.
Dez padres indiciados por pedofilia
A tese de doutoramento de Pedro Pombo inclui, na primeira parte, dados relativos aos relatórios anuais da Polícia Judiciária (PJ) referentes ao período compreendido entre 2003 e 2007. Os números indicam que houve 10 padres indiciados por abusos sexuais de crianças, o que levou a que o estudo tenha sido amplamente noticiado nos órgãos de comunicação social nacional na última semana. No total, foram analisados 5.128 casos naquele período, dos quais 720 perpetrados por pais. Pedro Pombo rejeita tecer comentários sobre a polémica, limitando-se a dizer que são dados «meramente estatísticos» e que reflectem «registos de denúncias». Para já, não se sabe o desfecho dos 10 casos que envolvem padres – acusação ou arquivamento.