Dizia Goebbels que uma mentira contada muitas vezes se transforma em verdade. E sabia do que falava, que boa parte da ideologia Nazi se baseava numa mentira, repetida inúmeras vezes. Hitler, em Mein Kampf, relatava uma imensa conspiração judaica, tendente ao domínio do Mundo e corporizada nos Protocolos dos Sábios de Sião. Tratava-se de um escrito com cerca de oitenta páginas que começou a circular pela Europa em 1919. Continha, supostamente, os acordos secretos celebrados entre eminentes judeus no congresso sionista de 1897 em Basileia, na Suíça, com vista ao tal domínio do Mundo. Para isso era preciso destruir os poderes existentes, civis e religiosos, através do fomento de revoluções e guerras e do ataque aos valores tradicionais, passando pelo domínio da imprensa escrita, e da propaganda. Quando a anarquia e o caos se instalassem, os Sábios de Sião estariam à espera, prontos para ocupar o poder e instituir um império judaico sobre o Mundo.
Todos acreditaram. O livro foi distribuído aos milhões pela Europa, financiado pelo Czar da Rússia, e pela América do Norte, com a ajuda de Henry Ford. Os grandes jornais e revistas acreditaram também, como o circunspecto The Times ou The Spectator, ou The Chicago Tribune. Todos engoliram o isco, o anzol, e depois a cana.
Não tardou que milhões acreditassem já numa imensa e global conspiração judaica para a tomada do poder. Foi assim que Hitler elegeu os judeus como principal inimigo e justificou o nacional-socialismo como única forma de lhe fazer frente, encontrando como solução final para o problema o Holocausto.
É verdade que entretanto se descobriu que os “Protocolos” eram uma fraude. Que se baseavam, copiando-a em partes extensas, numa obra de ficção de um advogado francês chamado Maurice Joly sobre a política francesa dos anos sessenta do século XIX, intitulado “Dialogue aux Enfers entre Maquiavel et Montesquieu”. Na verdade, os diálogos Um a Dezassete deste livro correspondem quase literalmente aos Protocolos Um a Dezanove. Uma falsificação grosseira, portanto. Uma falsificação que se sabe sê-lo desde 1920. Mesmo assim Hitler deu de barato que era tudo verdade e que existia mesmo a tal conspiração sionista. Ford, honra lhe seja feita, retractou-se. Mas o mal estava feito e milhões de mortos se seguiriam.
E quê?, perguntarão. Passaram-se décadas, o mal está feito, a mentira está desmascarada e a verdade reposta, não é? Não, não é. No médio oriente continua a circular, com grande sucesso, esse infame livrinho: milhões de árabes continuam a acreditar que os Protocolos dos Sábios de Sião correspondem a uma verdadeira conspiração. O artigo 32º dos Estatutos do Hamas utiliza-os como fundamento da justiça da sua luta contra Israel. O governo Iraniano também e a televisão pública do Irão ainda recentemente divulgava um documentário supostamente científico sobre o assunto. Pois é, são muitos, são ignorantes, persistem na ignorância e querem a bomba atómica.
Por: António Ferreira