Por mais confortável que estivesse junto a lareira, continuava encolhida pousando o meu olhar num céu que, por mais escuro que fosse, me fazia perder numa imensidão de pensamentos que um universo tão grande me transmitia.
Abri os olhos, sabendo que as cores das chamas já não me faziam transpirar ou flutuar em sonhos… Moída e aluada, levantei-me e, por mais sufocada que estivesse dentro de tantas peças de roupa, enfiei mais um casaco. Assim, cheia e pesada, saí.
Enquanto caminhava em bosques enlameados voltei a cair nos pensamentos da noite passada e, por mais que me enrodilhasse em teias de ideias, não chegava a respostas… “Por mais sorrisos que fluam, qual é o sentido para tanto esforço?”;”Por mais almas que salvemos, será que existe uma recompensa de um outro lado?”. Perdia-me num vazio de perguntas, ignorando qualquer imagem que fosse digna de atenção mas, por mais profunda que fosse a origem de tantas questões, decidi descansar e escutar tudo à minha volta. Aqui, por mais confiante que o frio fosse, as árvores carregadas não perdiam a cor, as flores não cerravam as suas pétalas e os animais não se escondiam por terem algo a temer.
Passinho após passinho, ia deixando as minhas pegadas marcadas num território puro, mas, por mais que soubesse que um dia iriam desaparecer, sorri ao vê-las intactas na neve, que, por mais suave e branca que fosse, insistia em banhar as escassas flores amarelas que ainda existiam.
Por mais lagos de gelo que se formassem em torno daquelas harmoniosas pétalas, nada me deteve e assim cantarolei simples melodias entrelaçadas com o doce cheiro das terras desconhecidas, por onde me arrastava… Ia saltando de pedra em pedra com olhos brilhantes e esperançados. Por melhores que fossem os pressentimentos que surgissem enquanto me perdia em mim mesma nas ruas daquela selva, sentia-me insegura e desprotegida, mas, por mais arrepiada que a minha pele ficasse, ao sentir-me rodeada de tantos outros corpos, calorosos, corajosos, soube que, por mais fundo que fosse o poço onde caísse, todos eles permaneceriam para o descer. Assim, de olhos vendados, deixei-me levar por uma leve brisa que, por mais fraca que fosse, continuava a embalar muitas outras borboletas…
Inês Corveira (12º B)