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«Quanto mais os turistas se perderem no centro histórico melhor»

Cara a Cara – Entrevista: Cristóvão Santos

P – Porque é que a loja “Coisas D’ Aqui” não deve sair do Largo do Passo do Biu?

R – Os comerciantes não querem que a loja saia daqui porque entendem que é um ponto de atracção de turistas. Sempre que um turista chega ao posto de turismo e pergunta onde pode encontrar um produto ou uma peça de artesanato sabemos que indicam a loja “Coisas D’ Aqui”. Isso faz com que os turistas depois caminhem pela Rua Direita e acabem por ver outros comércios e outras lojas. Além de visitarem o centro histórico, podem também eventualmente fazer algumas compras.

P – O que acaba por trazer benefícios aos outros comerciantes?

R – Exacto. Acaba por beneficiar as restantes lojas da zona histórica porque estamos a falar de um turista que vem à procura de uma peça de artesanato e passa por um restaurante, por uma mercearia que tem fruta à porta, um café ou uma loja de roupa. Ou seja, o que se pretende é que os turistas continuem à procura e a perderem-se no centro histórico e quanto mais o fizerem melhor, porque mais tempo passam por cá.

P – Entende que a Câmara tem actuado bem ou mal na dinamização do centro histórico?

R – Penso que o abaixo-assinado que foi feito e agora alguma mobilização que os comerciantes estão a ter são a resposta a essa questão. Se realmente houvesse um clima de satisfação não haveria necessidade de irmos junto da Câmara pedir para se fazerem coisas. A autarquia diz que está a fazer aquilo que é possível. No entanto, em termos gerais, os comerciantes acham que esse possível é manifestamente insuficiente para as necessidades que realmente existem.

P – O que deveria fazer a autarquia para que as pessoas venham mais ao centro histórico?

R – Começaria por termos as ruas todas concluídas em termos de asfaltamentos, passaria por haver uma preocupação maior relativamente a alguns edifícios devolutos e que têm as fachadas entampaidas ou que estão a ser suportadas pela fachada da frente… Passaria por ter uma maior sinalética para os acessos de peões e de automóveis. Tudo isso contribuiria, associado a alguma animação, porque a que tem sido feita só acontece praticamente na Praça Velha, esquecendo-se as restantes áreas da zona histórica.

P – Acha que as pessoas estão a regressar à zona histórica como a autarquia tem defendido?

R – Acho que essa contabilidade devia ser feita. Não tenho esses números de cabeça, nem em documentos, mas gostava que essa contabilidade fosse feita e víssemos quantas pessoas temos a habitar hoje no centro histórico e as que havia há 10 anos. Estão a ser feitas algumas reparações, mas há muitas mais casas em degradação. Se formos fazer o balanço, tanto em termos de pessoas, como de casas que estão a ser recuperadas e outras que diariamente se degradam, se calhar, continuamos com um balanço negativo.

P – Considera que o centro comercial gera alguma mais-valia para o comércio tradicional?

R – O Vivaci poderia funcionar perfeitamente em parceria com o centro histórico e acabou por atrair pessoas para esta zona da cidade. No entanto, terá que haver um maior trabalho de colaboração entre as duas partes e deverá ser a autarquia a tomar essa iniciativa de dinamizar essa ligação. Gostaria que isso acontecesse porque o que temos neste momento é um Vivaci que realmente traz algumas pessoas e um centro histórico onde as pessoas não podem estacionar, não podem circular e onde não há actividades. Ou seja, seria interessante, por exemplo, nos fins-de-semana ver o Vivaci com gente, mas essas pessoas terem mais alguma coisa para ver de forma a termos também um centro comercial a céu aberto. Fazer circular as pessoas do centro histórico para o Vivaci e vice-versa seria a sinergia que eu penso que também seria ideia da Câmara. Acontece que essa sinergia não está a acontecer essencialmente por falta de dinamização do centro histórico, porque se as pessoas cá tiverem animação e actividades com certeza que não virão só meter-se no centro comercial.

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