Pedro não trabalha e vive do desemprego. Não se esforça para arranjar que fazer. Estou bem assim – diz muitas vezes. Pedro nem vive de biscates nem de expedientes, é mesmo só dos subsídios que maneja com prontidão e destreza. São os dos filhos, os do rendimento mínimo, as indemnizações da fábrica, as prestações para a escola e para a alimentação, e vai à Igreja, aqui e ali, pedir o apoio da fome. Pedro especializou-se em nada fazer e usufrui de casa com renda de 25 euros. Claro que Clara, mãe solteira e com ordenado razoável num banco, não consegue nada disto, e tem o azar de ter sido a primeira aventura de Pedro, o indigente. Clara trabalha desde sempre e não fosse aquele dia em que se “entregou àquele homem perdidamente” a sua vida teria sido uma monotonia. Mas daqueles meses resultou um filho – o único filho que Pedro não perfilhou, o único que não lhe dá subsídio – que é o resumo de toda a sua vida. Clara paga a escola, não tem subsídio nenhum e não consegue apoios institucionais, pois vive acima dos mil euros por mês. Paga renda, paga empréstimo e paga a escola do rebento. Clara trabalha duro e responde a todas as exigências do Estado. Clara sabe que um pouco dos seus impostos vão para este Pedro, pai inacabado, de uma aventura inteira que um dia lhe trouxe o Bernardo do seu coração, indigente de profissão, subsidio-dependente para todo o sempre. A Clara passa pelo Pedro e acena de longe, Bernardo ao lado pergunta:
– Quem é mãe?
– É um senhor que às vezes vai ao banco filhote, Não é ninguém!
Por: Diogo Cabrita