As escutas de Sócrates são um problema das telefónicas. Sócrates é escutado vezes de mais em Portugal. Parece-me que José Sócrates tem um vício evidente de falar ao telefone. Aliás este é o seu pecado mortal, para além do outro que é ter muitos amigos e todos eles amigos difíceis. Amigos de Sócrates não se contém, telefonam-lhe e adoram dizer aos tipos todos que conhecem que lhe telefonam. Devem telefonar-lhe do carro em alta voz com a amante a ouvir.
– Tás a ver? Oh querida eu falo directamente com o Zé.
O Zé virou primeiro-ministro e paga esta bonomia com que passeou na política. Os amigos eram o Vara, a Felgueiras, o Narciso. Os amigos fazem muita asneira e depois logo que sai o primeiro inquérito zumba, lá vai um telefonema para o Zé. Oh! Zé, tás a ver estes tipos? Eu não sei se não devias fazer um telefonema para me valer. E assim estes amigos que são loucos por poder e dinheiro não se coíbem de ligar ao samaritano Sócrates e pespegam-lhe com milhares de chamadas no telemóvel.
– Oh pá não me dizes nada! Eu já te tentei contactar mais de três vezes.
Os amigos do Zé não percebem o problema institucional. Para eles, é o mesmo Sócrates na cantina da Faculdade, o mesmo José a sonhar ser Ministro e aquele que agora é. Não têm qualquer senso para a dinâmica da vida. São amigos do Zé, mas a família não os educou numa realidade complexa que é a da percepção do resguardo dos amigos, a percepção de que os seus gestos expõem o amigo se o não pouparem. Mas claro que o Zé podia ter melhores amigos e ser mais exigente com as pessoas a quem dá o telemóvel. O Zé é um tipo porreiro mas fala demais e expõem-se desnecessariamente. O próprio Zé tem de perceber um dia um facto: hoje representa-nos a todos – hoje, ele comanda Portugal. A ver se deixa as mensagens e os telefonemas bacocos.
Por: Diogo Cabrita
