P – Volvidos que estão 20 anos, valeu a pena avançar com o projecto “Coro Misto da Covilhã”, actual “Coro Misto da Beira Interior”?
R – Claro. Acho que é dos projectos mais saudáveis que existem. Só um projecto sólido é que consegue aguentar 20 anos, nomeadamente no Interior de Portugal.
P – Quais vão ser os pontos altos das comemorações?
R – Existem vários, mas o concerto final no mês de Julho, onde vamos convidar todos os antigos elementos do coro para actuarem com a Orquestra Sinfónica, será o momento mais importante das comemorações. Até pelo facto de, ao longo destes 20 anos, terem passado pelo coro cerca de 150 elementos, o que quer dizer que se trata de um grupo extremamente estável. Por norma, este número de pessoas passa por um coro em cinco anos.
P – E pensa que vai conseguir juntar todos esses elementos em palco?
R – Sim. Até agora, todas as pessoas que já foram contactadas se mostraram bastante satisfeitas e disponíveis. O único problema que poderemos ter é ter perdido o contacto de algumas pessoas, e estamos a começar precisamente por essas mais difíceis de encontrar.
P – Consegue eleger o momento que mais o tenha marcado ao longo destes 20 anos?
R – Sim. Eu penso que a ida à Palestina foi o mais importante. Independentemente das medalhas de ouro que ganhámos, acho que qualquer coro do mundo gostaria de ter estado nas comemorações dos dois mil anos do nascimento de Cristo. Se pensarmos friamente, só daqui a 990 anos é que poderá haver outro coro que tenha essa oportunidade, e penso que esse momento é quase inultrapassável.
P – E o mais adverso?
R – O mais adverso tem sido a constante perseguição por parte da Câmara Municipal da Covilhã, embora não se possa considerar adverso porque nós conseguimos sempre dar a volta, mas é o mais triste. Não consigo perceber como é que se consegue perseguir um grupo de pessoas que são amadoras, que não ganham dinheiro para cantar, que demonstram grande qualidade e representam a cidade e o país, e mesmo assim são perfeitamente ignoradas pela Câmara. Isso talvez seja o mais negativo do coro.
P – Quais os principais projectos do coro para o futuro?
R – Tenho em mente conseguir alcançar uma medalha de ouro numas Olimpíadas Corais. Agora, é sempre complicado porque este evento costuma realizar-se no mês de Julho e há sempre pessoas carregadas com exames nessa data. Mas em 2012, nos Estados Unidos, penso que poderá acontecer numa data que já nos permita concorrer e tentar esse objectivo.
P – Também já se colocou a hipótese de um concerto na Lua. Como é que está esse processo?
R – Sim. Escrevi uma carta à NASA, eles simpaticamente responderam que ainda não era possível, mas que tinham em atenção essa vontade e, portanto, vamos aguardar.
P – Como músico, como avalia o panorama cultural na região?
R – O panorama é contrastante. Existem valores e gente muito boa, mas a política cultural no Interior é fraca, até pelo facto de as Câmaras raramente se relacionarem umas com as outras nesse aspecto, o que seria uma mais-valia para toda a gente. Agora, pessoas com capacidades não faltam no Interior. Poderá, porventura, faltar alguma capacidade de concretização, mas mais por parte das autarquias.
P – Nesse sentido, é mais difícil fazer cultura no Interior?
R – Por um lado é mais difícil, com a falta de infra-estruturas e de apoios, mas tem a parte positiva de, por exemplo, nos movimentarmos facilmente de um lado para o outro. Se é preciso fazer mais um ensaio, as pessoas demoram 10 minutos, numa cidade maior marcar ensaios à ultima da hora é impensável, porque as pessoas demoram imenso tempo. Agora, o facto de eu ter optado por viver no Interior, não me trouxe qualquer tipo de prejuízo, até porque já fui conselheiro para a China, Alemanha ou Áustria, e o coro já actuou em 24 países.