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Entregues primeiras cartas de despedimento na Delphi

Pagamento de dois meses por cada ano de trabalho a título de indemnização vai ser tributada em sede de IRS

Não houve lágrimas às portas da Delphi da Guarda na passada sexta-feira, no dia em que começaram a ser entregues as primeiras 300 cartas de despedimento. Antes pelo contrário, alguns dos dispensados estavam visivelmente satisfeitos com o desfecho e até exibiram os envelopes à saída do primeiro turno.

«Já cá canta» foi uma das expressões mais ouvidas à porta da fábrica da multinacional norte-americana. A outra foi o silêncio e a recusa em falar com os jornalistas. Filipa Pissarra, de 28 anos, foi uma das poucas a prestar declarações para dizer que não estava à espera de sair tão cedo. «Não contava estar nesta lista, porque a linha onde trabalho ainda não vai acabar. Por isso, foi um choque quando me entregaram a carta, passei toda a manhã a chorar», confessou. Com dez anos de Delphi, a jovem ainda pensava que ia continuar «mais uns meses, mas fui uma das eleitas nesta primeira leva», lamenta. Já o seu marido, que está na fábrica há 14 anos, não será despedido, de acordo com os critérios estabelecidos pela administração da multinacional norte-americana – segundo os quais só será dispensado um elemento do casal que trabalhe na empresa: «Ele vai ficar, deram-me garantias disso», acrescenta, afirmando não saber o que vai fazer depois de 31 de Dezembro.

«Isto está complicado. Vou inscrever-me no Centro de Emprego e tentar arranjar qualquer coisa, vou correr alguns sítios, supermercados, sei lá… Terei de me desenrascar com o que houver», diz. Mãe de um «filho pequeno», Filipa Pissarra adianta que nunca falou sobre a hipótese de emigrar com o marido. Esta é um dos 300 trabalhadores que vão deixar a empresa até ao final do ano. A lista com os nomes dos escolhidos foi oficialmente comunicada aos sindicatos ao final da manhã de sexta-feira. São maioritariamente pessoas que trabalham nas linhas de produção de cablagens para as marcas Renault, Opel e Fiat que vão terminar nas próximas semanas na fábrica da Guarda. Esta primeira vaga do despedimento colectivo previsto vai abranger 277 operadores especializados, 12 operadores de logística, um verificador de qualidade, seis chefes de equipa, um encarregado e três técnicos.

«Talvez 50 por cento destes despedidos se tenham proposto para sair», acredita José Ambrósio. O delegado do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Metalúrgicas e Metalomecânicas (STIMM) considera que este desfecho é «o desmoronar de uma família, pois há pessoas que criaram aqui grandes elos de amizade ao longo dos anos e que, neste momento, vêem essa ligação partida. Não acredito que algumas delas tenha trabalho na Guarda, talvez optem pela emigração», declarou, confessando-se «triste e emocionado» com a situação. A tal ponto que o sindicalista vai abandonar o STIMM, a que está filiado desde 2001, alegando que «o objectivo que me tinha proposto de evitar os despedimentos não foi conseguido. Estou muito desiludido com os políticos, que nos deviam ter ajudado mais a encontrar soluções para salvar a Delphi». Os despedidos, cuja média de idades ronda os 40 anos, vão receber dois meses por cada ano de trabalho a título de indemnização, que será paga até 31 de Dezembro, adiantou José Ambrósio.

Contudo, vão ter que pagar IRS, isto porque a legislação só prevê a isenção fiscal para montantes compensatórios calculados até ao mês e meio por cada ano de trabalho. Como aceitaram a proposta da empresa – dois meses –, os valores que os dispensados vão receber serão ilíquidos. «Como é um despedimento colectivo estão isentos de Segurança Social, mas não do IRS. Cabe agora a cada um deitar contas à vida e não pensar que aquele dinheiro foi a lotaria», alertou o sindicalista.

Luis Martins Dispensados são maioritariamente operadores especializados na fábrica da Guarda-Gare

Comentários dos nossos leitores
HONORATO ROBALO honorato.robalo@gmail.com
Comentário:
Quero aproveitar para realçar a postura da trabalhadora Filipa Pissarra, um testemunho de perspectiva na defesa do posto de trabalho. Já agora lanço o desafio que possam juntar esforços de muitas Filipas, espero que seja a maioria e juntar as energias de luta com o apoio do Sindicato, neste caso aqui personificado no camarada Ambrósio. Infelizmente, interrogar-se-ão mas não fala em colectivo? Pois, isso é que me preocupa quando prestei solidariedade devida ao colectivo, há alguns que não contribuem para o colectivo, e esses coloco-os no mesmo patamar dos amarelos. A luta continua, mesmo que seja ainda uma minoria! Nunca poderão apontar a esses que baixaram os braços. Vivam as Filipas!!!
 

Entregues primeiras cartas de despedimento
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