Finalmente encerrou-se o ciclo eleitoral e tudo ficou igual. A conclusão é a de que gostamos de nós próprios, gostamos de quem nos governa, gostamos das políticas dos nossos governantes. E por isso merecemos continuar com uma política económica da qual tem resultado mais e mais pobreza onde a corrupção e a burla dominam e onde, como refere Hernani Lopes, “vale tudo para enriquecer depressa”.
Merecemos uma política educativa que despreza e ignora os seus educadores; merecemos uma política social que alimenta a pobreza em vez de a eliminar ou pelo menos reduzir; merecemos uma política de justiça que se ajoelha perante o poder político e económico, incapaz de condenar os poderosos, mas que esmaga e aniquila os indefesos; merecemos uma política de saúde que importa médicos e exporta doentes; merecemos uma política agrícola que se limita a ver a falência da nossa já inexistente agricultura; merecemos não ter florestas porque não somos capazes de as preservar e muito menos de as reproduzir; merecemos uma comunicação social muitas vezes submissa, outras vezes manipuladora e raramente isenta.
Cá pelo burgo já tudo foi dito: ao contrário do PS que foi capaz de, por algumas semanas, esquecer os problemas internos e unir-se em torno do seu candidato, o PSD não foi a jogo e por isso foi “goleado”. De facto, ficou claro que a população do concelho da Guarda não se entusiasmou com o projecto liderado pelo Engº Crespo de Carvalho (CC). Ficou também claro que os militantes do PSD-Guarda não gostam de CC como não gostam que os cidadãos independentes se misturem com eles. Ficou ainda claro que o PSD não é alternativa: um partido onde grande parte dos seus militantes mais influentes se preocupa apenas em lutar pelo poder, que não se coíbe de apoiar o adversário quando as suas vontades individuais não são satisfeitas, não merece mais. Com militantes que passaram a campanha a criticar o candidato que o partido indicara e a elogiar os adversários (talvez à espreita das migalhas que o poder sempre espalha), com militantes que não esconderam o seu regozijo pelo resultado eleitoral, o PSD bem se pode preparar para continuar a ver o comboio passar.
Pessoalmente, odeio a política feita do insulto ou da violência; odeio a hipocrisia e o faz de conta. Não aceito que as opções políticas belisquem os relacionamentos pessoais. Crespo de Carvalho foi derrotado como o foi a equipe que o apoiou e mais derrotado ainda foi o PSD. O projecto liderado por CC esfumou-se com a recusa do candidato em assumir integrar a oposição. Não havendo um projecto alternativo, a “oposição” ao executivo PS só pode ser feita pelos projectos políticos próprios de cada partido. Como independente (face aos partidos) que sempre fui, sou e continuarei a ser, não me revejo a fazer parte de qualquer projecto político-partidário. Como consequência, e depois de alguma reflexão e muito desencanto, optei por não tomar posse como membro da Assembleia Municipal da Guarda para a qual fui eleito, deixando também ao PSD a possibilidade de reforçar o seu peso naquele órgão.
A opção vai pois para concentrar as energias na minha vida familiar e profissional, recusando qualquer protagonismo público que nunca desejei.
Termina também hoje a minha colaboração com este jornal. Não que algo me mova contra o mesmo, apenas e só porque decidi usar o meu direito ao silêncio e de me abster de qualquer participação na vida pública, para além daquela que possa decorrer da minha actividade profissional. Fica o meu agradecimento ao Luís Batista-Martins. Ao “O Interior”, desejo todo o sucesso que merece.
Por: Constantino Rei
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