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Câmara de Gouveia referenciada no processo “Face Oculta”

Autarquia celebrou um contrato com uma empresa de Manuel Godinho, assim como a do Sabugal

A Polícia Judiciária está a averiguar alegados indícios de corrupção em negócios realizados entre as empresas de Manuel Godinho e vários municípios do país, no âmbito da operação “Face Oculta”, e tem na mira a Câmara de Gouveia – que, de acordo a última edição do semanário “Expresso”, está referenciada na investigação. Em causa estará a venda de sucata à firma O2 – Ambiente Tratamento e Limpezas Ambientais, resultante da demolição de fábricas do concelho.

A autarquia admite ter feito um negócio com o empresário, em Janeiro, mas fala no «cumprimento escrupuloso» da legalidade. Segundo a edilidade, o acordo em nada está relacionado com antigas fábricas e sim com a recolha de veículos em fim de vida, num processo em que foram consultadas seis firmas. «A esta consulta responderam três empresas, sendo que a proposta mais favorável (…) foi apresentada pela O2 Ambiente-Tratamento e Limpezas Ambientais SA, pelo valor de 400 euros», explica a autarquia presidida pelo social-democrata Álvaro Amaro em comunicado divulgado no sábado. Já na segunda-feira, a Câmara emitiu uma segundo nota, anunciando a abertura de um inquérito, que será conduzido por uma «personalidade independente», para apurar «qualquer eventual contacto por parte de funcionários ou colaboradores com as pessoas e os factos abrangidos pela operação “Face Oculta”».

E acrescenta que encara as notícias veiculadas nos últimos dias com «perplexidade resultante da continuada violação do segredo de justiça», anunciando ainda que prescinde deste para que as autoridades «possam divulgar e publicar todos os factos que possam envolver qualquer pessoa» da autarquia. Para além da Câmara de Gouveia, também a do Sabugal negociou com o empresário de Ovar – ainda que nada aponte para que possa vir a ser investigada, pelo menos até à última terça-feira. Manuel Godinho, que se encontra em prisão preventiva, foi quem vendeu à autarquia a antiga fábrica da Cristalina, a fim de aí se instalar o Pólo Empresarial do Soito, que entretanto passou a chamar-se Centro de Negócios Transfronteiriço. A firma que chegou a acordo com esta autarquia foi a Manuel J. Godinho – Administrações Prediais, S.A., com sede em Esmoriz. Ao que O INTERIOR apurou, o contrato, que envolveu cerca de dois milhões de euros, foi realizado no último mandato de António Morgado – que em 2005 viria a ser sucedido no cargo pelo também social-democrata Manuel Rito.

O acordo incluía também trabalhos de remodelação, previstos num projecto arquitectónico que a autarquia aprovou. O actual presidente da Câmara, António Robalo, confirma que o negócio existiu e diz que «actualmente não existe nada» entre as partes. Isto porque, segundo explica, a firma «cedeu entretanto os créditos a outra empresa», já no mandato de Manuel Rito, em que o recém-eleito presidente da Câmara era vereador. Trata-se da Sonabe – Projectos e Construção, Lda, com sede em Lisboa, e propriedade de empresários do Soito, que passou a ser a responsável pelas obras no edifício, recebendo os valores com que a Câmara se tinha comprometido. «Estamos obviamente descansados», sublinha o autarca. No distrito, conta-se ainda mais um negócio, realizado na Guarda, que, segundo o “Jornal de Notícias”, já está a ser investigado. O alvo das suspeitas envolve a recolha e tratamento de 30 toneladas de resíduos informáticos, numa consulta pública realizada por uma entidade – cujo nome ainda não era conhecido na passada terça-feira. Nesta consulta, só terão entrado três empresas, todas de Godinho.

A autarquia admite ter feito um negócio e garante que foi tudo legal

Câmara de Gouveia referenciada no processo
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