1. Saramago, o antigo aparatchik, distinguido no capítulo dos saneamentos políticos no DN durante o Verão Quente de 75, anda a fazer pela vida. Desta vez, lançou uns mind games promocionais, assim mais teosóficos, acerca do Antigo Testamento. Logo transformados no centro do debate na esquálida “praça pública” da Nação. Afinal, o homem não disse mais do que outros já disseram sobre o tema. Só que se trata de um nobelizado, um intelectual “progressista”, apreciado por muita gente com a escolaridade obrigatória. No entanto, Saramago é talvez o maior equívoco da literatura nacional do séc. XX. Escreve bem, o que é discutível, mas nunca foi um bom escritor. Vale mais uma só obra de José Cardoso Pires do que toda a sua litania prosélita, que alguns confundem com literatura. Como cidadão, a arrogância e o ressentimento social precedem-no à légua. Porém, a sua prestação mediática é-me absolutamente indiferente. Entretanto, a criatura lá vai parindo uns volumes sazonalmente, numa demonstração de incontinência literária capaz de fazer inveja a Camilo. Desta vez, para aumentar as vendas de “Caim”, nada como uns bons soundbites, em registo agitprop. Um tique que lhe ficou dos tempos leninistas. Mas cuja eficácia, em termos de marketing, tem chegado e sobrado. Portanto, temos um escritor medíocre, esganiçando-se na tasca a dizer “mal da padralhada”. Ou seja, um pregão tonitruante que anuncia os seus serviços… Esquecendo-se que barafustar “contra a padralhada” é uma espécie de socialismo para idiotas.
2. O périplo desses prosélitos irlandeses que dão pelo nome de U2 está a originar fenómenos de devoção dignos de um estudioso das religiões. Concertos esgotados, fieis que se deslocam a pé quilómetros e quilómetros para adquirir os bilhetes, que esperam dias e dias por que as box office abram as portas, de modo a obterem o passaporte para o céu, num desafio anónimo digno de figurar no Guinness, embora mais genuíno, mais místico do que esperar à porta do centro de saúde pela senha da consulta, nem a propósito, a sanha musical, precisamente, fiéis que dão hossanas quando têm garantido o seu rectangulozinho que dá acesso ao céu, devotos que espalham a boa nova pelos microfones solícitos dos jornalistas, quando lhes são estendidos, oficiantes que homiliam o gosto megafónico, que pastam na mediania, que são fenómeno só porque seguem as pisadas do espectáculo, o verdadeiro deus, a máquina trituradora, que são conversos antes da conversão, apóstatas antes e depois da apostasia, peregrinos em busca da santidade decibélica, vítimas sacrificiais de uma imolação sem vítimas e sem carrascos…
3. O livro chama-se “Os Bons Velhos Tempos da Prostituição em Portugal”, (Antígona, 2006) de Alfredo Amorim Pessoa. No final (pág. 219), à laia de índice onomástico, vem elencado o léxico recolhido pelo autor e que no luso vernáculo designa o créme de la créme do tema. Deste modo, usando só os termos mais incomuns, para fornicar temos: afagar a palhinha, embutir, entamelar, chapar, dar uma espetadela, dar uma mocada, molhar o carocho, nicar, fazer tac-tac, penachar, pinar, lixar. Sinónimos de ir às putas: andar ao fanico, andar em manobras, andar às gatas, ir ao fado, ir a manos, ir para leste. Sinónimos de prostituta: cegonha, chantra, coirão, estardalho, fadista, faneca, franjosca, horizontal, lúmia, machorra, menesa, novata, ostra, pangaio, pataqueira, pépia, torga, tronga, vasvulho, vequeira, zoina. Outros termos: alcocheta, onze letras (alcoviteira), casa da tia, ilha dos amores, mangalaça, a da Joana (o mesmo que bordel), estar com avental de pau (expor-se à janela), sair a cavalo (contrair sífilis), frasco de memória (velha), iscada (puta com sífilis), marmita, mina, minestra (moça que é chulada), andarilho, pato (clente que paga bem), queijada (mesada que a puta dá ao chulo), gimbar (chular).
NOTA: o autor reinicia aqui as suas crónicas mensais, intituladas de acordo com o mês respectivo do calendário republicano francês.
Por: António Godinho Gil