Foi a grande surpresa destas eleições autárquicas. Na Mêda, o PS destronou um dos mais duradouros autarcas do distrito, João Mourato – também presidente da Assembleia Distrital da Guarda, que concorria a um sexto mandato consecutivo. O novo presidente de Câmara é Armando Carneiro, um empresário de 53 anos, que ganhou com uma diferença de 479 votos e conseguiu mesmo maioria absoluta.
A candidatura do PS arrecadou 53,37 por cento da votação, com um total de 2.367 escrutínios, enquanto que a lista liderada por João Mourato ficou-se pelos 42,57 por cento. Já a CDU obteve apenas 1,2 por cento dos votos. Com este resultado invertem-se os lugares no executivo medense, com os socialistas a garantirem três mandatos e os sociais-democratas dois. «Quando me meto num projecto é para ganhar», reage o presidente eleito, que, apesar de ter ligações ao CDS, decidiu aceitar o desafio lançado pelo PS. «No fundo, esta foi uma candidatura multipartidária, mas sob a sigla do PS», adianta Armando Carneiro, ao referir que «o terceiro elemento da lista é do PSD e o quarto é a presidente da concelhia do CDS». Para o novo presidente da Câmara da Mêda, os resultados de domingo indicam que «as pessoas do concelho estavam já saturadas» da governação de 20 anos de João Mourato.
«A desertificação é um dos nossos maiores problemas e há que combatê-la», afirma Armando Carneiro, que coloca no topo das prioridades a agricultura, o turismo e o emprego, numa «cooperação entre sectores, para criar mais riqueza». No entender do presidente eleito, «é preciso fomentar o auto-emprego», apoiar o comércio tradicional e ainda as pequenas e médias empresas. No que toca à agricultura, Armando Carneiro constata que o sector tem «sobrevivido com muita dificuldade», lamentando que se «tenha, por exemplo, acabado com o vinho na Mêda e deixado fechar a única cooperativa». Relativamente à Assembleia Municipal, o sufrágio de domingo trouxe também grandes mudanças. No último mandato, o PSD tinha 11 mandatos e o PS apenas seis. Agora, os socialistas vão estar em maioria, com nove deputados. A candidatura socialista teve 51,34 por cento da votação, contra 43,52 dos sociais-democratas, tendo sido a mais votada com uma diferença de 347 votos.
João Mourato era, até aqui, o segundo presidente de Câmara do distrito há mais tempo no poder, atrás do autarca de Trancoso, Júlio Sarmento – que passa a ser o único “dinossauro” do municipalismo da região, ao avançar para o seu oitavo mandato consecutivo. O edil derrotado já disse a O INTERIOR que vai assumir o lugar de vereador no executivo (ver entrevista pág.26).