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Responsabilidade absoluta

Opinião

Um dos desafios que se pode colocar a um democrata é a atitude perante a derrota eleitoral. Pessoalmente defino derrota eleitoral como um resultado aquém das expectativas e nestas eleições autárquicas, relativamente ao concelho da Guarda, o Bloco de Esquerda obteve um resultado inferior ao que esperava, logo, é um dos derrotados.

Feita esta introdução, exige-se naturalmente uma saudação de parabéns aos vencedores, o PS e o engenheiro Joaquim Valente, e o reconhecimento da lisura do processo democrático.

Pouca ou nenhuma consolação virá do facto do PSD ter obtido uma derrota estrondosa, recebida com azia, do facto do Bloco ter aumentado a sua votação relativamente à de 2005 e de isso lhe ter permitido fazer eleger 2 deputados municipais; queríamos 3 e um vereador e não conseguimos.

A clara vitória do PS e o reforço da maioria na Câmara, permitem dois tipos diferentes de raciocínios: o de que o povo da Guarda não se deu mal com o tipo de gestão autárquica praticada nos últimos 4 anos e o de que conferiu ao seu presidente uma dose suplementar de responsabilidade para os próximos 4.

É este último aspecto provavelmente o mais importante.

A desigualdade de forças na vereação não pode implicar uma gestão camarária baseada na arrogância, no compromisso com o poder central nivelado por baixo e na inexistência de articulação com os representantes parlamentares eleitos pelo distrito. Tem que implicar precisamente o contrário. Maioria absoluta não é sinónimo de unanimismo e muito menos de ditadura, como José Sócrates bem aprendeu com o resultado das europeias e das legislativas.

A cultura democrática não deve transparecer apenas na derrota; na vitória também e é essa a responsabilidade deste PS que acaba de ganhar a Câmara.

A questão hospital

Uma legislatura completa em maioria absoluta e uma autarquia absolutamente socialista também, não foram suficientes para mais do que a aprovação em tempo recorde (chamemos-lhe desespero pré-eleitoral) de um projecto de ampliação do hospital por metade do valor inicialmente previsto, da colocação de uma tela de propaganda mentirosa na fachada do hospital, da encenação do lançamento da primeira pedra pelo 1º ministro, aclamado por reverentes cavalheiros e pequenas damas perfumadas com saias novas, quatro dedinhos acima do joelho e, finalmente, da abertura de um enorme buraco à custa de escavadoras e explosões que fazem tremer as actuais instalações, sobressaltando doentes e funcionários… não socialistas.

No entanto, de REMODELAÇÃO das actuais instalações até agora… zero. E ampliação sem remodelação é igual a um carro sem rodas ou a uma piscina sem água: existem, mas não servem para coisa nenhuma.

Portanto, meus senhores, terminem lá os festejos e metam mãos à obra. Não esperem pelas próximas eleições para tirar um coelho da cartola seis meses antes. Lá estaremos, na Assembleia Municipal, atentos à coisa.

Por: António Matos Godinho *

* Mandatário da candidatura do Bloco de Esquerda à Câmara da Guarda

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