Duas datas diferentes na mesma baínha para os mesmos objectivos do nosso país. Datas que parecem espadas, eis porque falo da mesma bainha. São, metaforicamente duas espadas de datas dentro da mesma baínha. Tudo o que o país queria era liberdade. Nunca tinha tido espaço para si próprio, o povo de Portugal. Desde 1139 com o nosso primeiro rei proclamado pelos populares por ganhar imensas batalhas contra os, denominados pelo povo portucalense do condado desses tempos, invasores, o povo português nunca mais teve paz. Afonso Henriques foi rei a partir de 1143, data em que o Papa ditou uma bula.
Afonso Henriques comprou a coroa por 100 sacas de moedas de ouro de cem quilos cada saca. Entre batalha e batalha, não apenas o povo português nunca mais teve paz, bem como foi expandindo os seus territórios até à fronteira com África. História que todos conhecemos e, para os que a não saibam, é suficiente ler os historiadores citados em nota de rodapé, e ficamos quites: Afonso El-rei, a sua mãe desterrada, os marroquinos nas suas terras de origem e nós….com santa liberdade e muita terra para partilhar com os de Guimarães, Castela e Leão. Faltava, sim, a Liberdade.
«- Ilustração 1ª Liberdade guiando ao Povo, de Eugène Delacroix, 1833
Não é por acaso que coloquei esta imagem do pintor Delacroix dentro destas curtas ideias. Portugal tinha tudo, excepto Liberdade. Soldados, servos da gleba, súbditos de um monarca absoluto, entre 1143 e 1820, ou vassalos dos Espanhóis, que entravam no país quando queriam e em épocas diferentes e por sítios e motivos diversos. A pintura de Delacroix, muito embora com a bandeira francesa, é o símbolo dessa liberdade jamais obtida, até ao dia de hoje. Os franceses souberem trazer para Portugal, na invasão de 1818, ideias liberais. As pinturas de Delacroix falam e contam a história do povo oprimido, como o Massacre de Chios , essa matança de milhares de gregos na ilha de Chios, pelos turcos otomanos em 1822.
Matanças em Portugal, ao longo de todos os Séculos da sua existência, até ser proclamada a República a 5 de Outubro de 1910. Mas as guerras não pararam, apesar dos esforços do Partido Republicano, com a liderança de Afonso Augusto da Costa, como narro no meu Aventar anterior. Há a Revolução de 1911, a reinstalação da República e, a seguir, em 1918, a rebeldia de Sidónio Pais, que todo o mundo conhece, como sabe que o primeiro período da república foi tudo menos sereno: as convulsões sociais sucediam-se às políticas e económicas. Em 1910, instala-se a I República, até 1926, que abre o cenário da Ditadura Militar (dando início à II República) que vigorou até 1974, contudo, alguns historiadores consideram que entre 1926 e 1974 há duas fases diferentes, 1ª – de 1926 a 1933 (data da nova Constituição que aboliu a de 1911); 2ª 1934 a 1974. As fontes, datas e nomes, são bem conhecidas, até por tratar delas nos meus Aventares anteriores, e o Estado Novo que todos sabemos, entre 1933-1974.
A partir de 1974 a ditadura é derrubada pelo Movimento das Forças Armadas e começam os alinhamentos e realinhamentos de partidos e grupos, como o que era pretendido a 5 de Outubro de 1910. Há movimentos que se dissolvem para entrar nos Partidos organizados, facilitando a entrada de Portugal na Comunidade Europeia, hoje, União Europeia.
No entanto, as eleições legislativas de Setembro último apresentam-nos um país em que parece que nada é levado a sério. O partido que nos governava perdeu a maioria absoluta, o PS, e o seu rival PSD não atingiu assentos na Assembleia para poder Governar. O CDS-PP e a CDU são alargados pela eleição de Deputados que não esperavam, o Bloco de Esquerda diz que dois Deputados lhe foram roubados, apesar de ter redobrado a sua representação parlamentar, mas, como já não é a terceira força politica, passou para o lugar imediatamente abaixo do poder político para nos governar, ainda reclama desse latrocínio.
Não há mouros para lutar e afastar do país, não há a Infanta Teresa de Leão para lutar. Ficamos sós, a pactuar entre as melhores conveniências, para as nossas próximas eleições. Vejo esse meu antigo estudante, Presidente (PSD) do concelho de Cascais, coordenar-se com o CDS-PP, do qual, dizia, nunca ter gostado.
Quem será chamado pelo fragilizado Presidente da República para governar este fragilizado país?
O 25 de Abril restaurou a lei e a constituição, os partidos desenvolveram-nas, mas, para benefício de quem?
Até me apetece repetir, como Karl e Jenny Marx, proletários do mudo, uni-vos….. Salvemos este símbolo (na minha frase final) para defender essa ideia de que o 5 de Outubro começou a nascer em 1974, e que anda sempre para trás e para a frente. Falta-nos Zeca Afonso outra vez para cantar Grândola, Vila Morena, e recomeçarmos…..
Mas, quem é nos dias de hoje proletário? Serão os habitantes dos bairros de lata, que em esmolas ganham centenas de euros….? Será o electricista, que cobra 20€ por uma deslocação, exceptuando-se o trabalho? Será a senhora que trabalha em casa, cozinha e lava a roupa e anda de carro? Serão os técnicos de informática, tão necessários para nós, porque deles dependemos até para comunicar com alguém, que cobram tal como os outros sempre que os chamamos? Ou a rapaziada que nos leva as compras a casa?
A minha frase final: defendamos a Liberdade, incrustada neste pendão:
Ilustração 3: Bandeira de Portugal
(créditos fotográficos: António Vale) -»
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1- Em 1179 o Papa Alexandre III reconheceu Portugal como país independente e vassalo da Igreja, através da Bula Manifestis ProbatumD. Afonso I de Portugal, mais conhecido pelo seu nome de conde, Dom Afonso Henriques, (1109 (?) — 6 de Dezembro de 1185) foi o primeiro rei de Portugal, conquistando a independência portuguesa em relação ao Reino de Leão em 1143 no tratado de Zamora.
Em virtude das suas múltiplas conquistas, que ao longo de mais de quarenta anos duplicaram o território que seu pai lhe havia legado, foi cognominado O Conquistador; também é conhecido como O Fundador e O Grande. Os muçulmanos, em sinal de respeito, chamaram-lhe Ibn-Arrik («filho de Henrique», tradução literal do patronímico Henriques) ou El-Bortukali («o Português»).
Em 1128, as tropas de Teresa de Leão e Fernão Peres de Trava defrontaram-se com as de Afonso Henriques na batalha de São Mamede, tendo as tropas do infante saído vitoriosas – o que consagrou a sua autoridade no território portucalense, levando-o a assumir o governo do condado. Consciente da importância das forças que ameaçavam o seu poder, concentrou os seus esforços em negociações junto da Santa Sé com um duplo objectivo: alcançar a plena autonomia da Igreja portuguesa e obter o reconhecimento do Reino.
Em 1139, depois de uma estrondosa vitória na batalha de Ourique contra um forte contingente mouro, D. Afonso Henriques autoproclamou-se rei de Portugal, com o apoio das suas tropas. Segundo a tradição, a independência foi confirmada mais tarde, nas míticas cortes de Lamego, quando recebeu a coroa de Portugal do arcebispo de Braga, D. João Peculiar, se bem que estudos recentes questionem a reunião destas cortes.
Fonte: Viseu, Agosto de 1109 – Nasce D. Afonso Henriques, Almeida Fernandes, o primeiro estudo sobre o nascimento do primeiro rei de Portugal, apoiado por historiadores tais como José Mattoso, Maria Alegria Fernandes Marques, António Matos Reis, João Silva de Sousa, Bernardo Vasconcellos e Sousa, Avelino de Jesus Costa, entre outros.
1- Ferdinand Victor Eugène Delacroix (d-lä-krwä) – (26 de Abril de 1798, Saint-Maurice — 13 de Agosto de 1863, Paris) foi um importante pintor francês do Romantismo, sendo considerado o mais importante representante francês desse movimento. Na sua obra convergem a voluptuosidade de Rubens, o refinamento de Veronese, a expressividade cromática de Turner e o sentimento patético do seu grande amigo Géricault. O pintor, que como poucos soube sublimar os sentimentos por meio da cor, escreveu: “…nem sempre a pintura precisa de um tema”. E isso seria de vital importância para a pintura das primeiras vanguardas.
Delacroix interessou-se também pelos temas políticos do momento. Sentindo-se um pouco culpado pela sua pouca participação nos acontecimentos do país, pintou A Liberdade Guiando o Povo (1830), um quadro que o estado francês adquiriu e que foi exibido poucas vezes, por ter sido considerado excessivamente panfletário. O certo é que a bandeira francesa tremulando nas mãos de uma liberdade resoluta e destemida, prestes a saltar da tela, impressionou um número não pequeno de espectadores.
3- Fonte: a minha colecção de livros de pinturas, entre os que se encontra O Grande Livro da Arte, 1982, Editorial Verbo, São Paulo, com licença de Octopus Books Ltd, Londres.
4 – Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais (Caminha, 1 de Maio de 1872 — Lisboa, 14 de Dezembro de 1918), mais conhecido por Sidónio Pais, foi um militar e político que, entre outras funções, exerceu os cargos de deputado, de Ministro do Fomento, de Ministro das Finanças, de embaixador de Portugal em Berlim e de Presidente da República Portuguesa. Enquanto Presidente da República, exerceu o cargo de forma ditatorial, suspendendo e alterando por decreto normas essenciais da Constituição Portuguesa de 1911, razão pela qual ficou conhecido com o Presidente-Rei. Oficial de Artilharia, foi também professor na Universidade de Coimbra, onde leccionou Cálculo Diferencial e Integral. Protagonizou a primeira grande perversão ditatorial do republicanismo português, transformando-se numa das figuras mais fracturantes da política portuguesa do século XX.
Por: Raúl Iturra