Arquivo

O melhor do Verão

Deolinda em Figueira

Fugir. Fugir é o meu desígnio em Agosto. O calor, a confusão, os que andam de férias… E eu que não tiro férias…

E como se tudo isto fosse pouco… ainda há a invasão de emigrantes.

Confesso: muitas vezes me interroguei, porque será que as gentes da diáspora, os que partiram, os que fugiram… nos incomodam tanto? O que nos dá tanto desconforto? A fanfarronice? As bombas com música pimba no máximo? O “franciú”?… Ao ler Henrique Raposo (no Expresso), de que normalmente discordo, reflicto sobre uma abordagem curiosa: o incómodo que sinto diz mais sobre nós, os que vivemos na “pátria”, do que sobre os emigrantes, os que vivem na diáspora. Nós irritamo-nos com os “emigras”, porque eles nos fazem recordar, mesmo que apenas no subconsciente, aquilo que queríamos esquecer: o atraso histórico de Portugal. O ar “rura” dos “emigras” recorda-nos que as marcas da modernidade chegaram recentemente a Portugal. Sem a revolução industrial, que no século XIX iniciou o êxodo rural na Europa, mas também a escolarização generalizada da população, enquanto a geração dos nossos avós era analfabeta. Por isso, e com grande atraso, somos filhos da primeira geração de portugueses a ir à escola (até à 4ª classe). Netos de analfabetos, somos a geração dos mestrados e doutoramentos. Esta extraordinária transformação é recente, tem mesmo algo de sonho americano, como exclama Henrique Raposo. Um salto notável dos portugueses, mas de sofisticação recente, de urbanidade recém-chegada. Uma modernidade que é contrariada, quase ofensivamente, pelo ressuscitar de um “velho” Portugal, que já não existe há 30 anos, e que os “emigras” guardaram na arca congeladora dos subúrbios de Paris, e que a cada Agosto, entre bifanas e minis, se apresenta para interromper o devaneio vanguardista, a sofisticação “socialite”, académica e cultural. E é isso que nos irrita, o termos de conviver com o Portugal que queremos esquecer. O regresso dos “emigras” exibe aquilo que não queremos ser, e já não somos, porque agora já vivemos a modernidade e a Europa, mas de forma ainda tão pueril que nos esquecemos que ontem, Portugal, era assim…

E é também neste tempo que as nossas terras se enchem. Que o dia é vivido à noite, por entre o arraial e um festejo… Agosto traz essa alegria. E há as festas, já não de bailaricos populares e ranchos folclóricos, mas de espectáculos inebriantes e de massas. E se para muitos o Tony Carreira é o rei do Verão, e não conseguem pensar uma festa sem artistas pimba, há quem consiga promover festividades com cartazes de qualidade, como foi o caso da Câmara de Figueira de Castelo Rodrigo. E o momento do Verão… foi ali. Precisamente. Os “Deolinda” musicaram um serão de histórias de encantar, para depois nos embalar por essa voz arrebatadora de Ana Bacalhau. Valeu. Em Agosto, com muito gosto, em Figueira.

Luís Baptista Martins

O melhor do Verão

Sobre o autor

Leave a Reply