O magnificente incêndio que fustigou o concelho do Sabugal nos últimos dias de Agosto e nos primeiros de Setembro merece uma reflexão exaustiva e que sejam tiradas algumas conclusões. Pessoalmente, tiro as minhas ilações e fico profundamente revoltado e triste.
As causas dos fogos rondam as mais diversas origens, sendo certo que o crime e a negligencia grosseira estão estreitamente ligados a elas, assim sendo torna-se mais do que imperioso agir, tendo em conta a realidade dos factos (…).
Tendo em conta o número de horas em que o incêndio esteve activo, o número de populações atingidas, os hectares de mata e floresta devorados e observando a quantidade de meios empenhados, só posso concluir que da batalha travada entre o incêndio bruto e selvagem e o homem inteligente e sociabilizado resultou apenas um desfecho: a derrota e o esmagamento do homem.
Estive no terreno, vi e vivi de perto os factos e, lamentavelmente, ferido na vontade e no desejo, tenho que me manifestar absolutamente desiludido com a prestação dos nossos bombeiros. Sim, digo-o convicto da verdade que me leva a escrever, digo-o porque batalhei na frente das chamas horas a fio, porque me vi rodeado de dezenas de rapazes audazes, armados como podiam, cortando mato, abrindo caminho, cavando terra, chicoteando pastos e porque durante uma tarde, uma noite e uma madrugada não tivemos connosco uma única equipa de bombeiros, um único veículo, uma única explicação.
Não me falem de falta de acessos, porque os havia; não me falem de falta de meios porque os veículos se acumulavam nas estradas asfaltadas; não me falem de exaustão, porque não vi um único “soldado da paz” empunhando uma pá.
A política das chefias parece-me amplamente preocupada em mostrar os meios e a vaidade dos tripulantes, mas estão muito longe de cumprir a obrigação e o papel que as populações esperam delas. As corporações empenhadas, além de não conhecerem o terreno, não têm preparação para apear e lutar sem um canhão de água. Vi-os limitados, a esperarem pela frente do incêndio nas estradas nacionais, e também os vi a deixarem que ele passasse por eles sem receio, sem medo, sem desvanecer.
Deixo aqui os parabéns à população das Quintas de São Bartolomeu, que tocou a rebate e se juntou como um exército, mas ficou exausta depois de ter extinguido algumas frentes sem ter vislumbrado um único amador, voluntário ou profissional dos bombeiros.
Estou certo que muitos destes soldados deram o melhor de si, mas muitos deles nem sequer terão precisado de lavar a farda.
Fernando Birra, Quintas de São Bartolomeu (Sabugal)