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Antigos habitantes do Colmeal invadem a aldeia fantasma no Verão

Moradores, agora residentes em Lisboa, regressam em família a esta terra de Figueira de Castelo Rodrigo

No Verão, regressam os filhos da terra à aldeia fantasma do Colmeal, aqueles que perderam o tecto na infância e viram os pais serem obrigados a recomeçar as suas vidas do zero, nas aldeias vizinhas, após o histórico despejo de1957.

Regressam os que ali têm familiares sepultados e os que, de um modo ou outro, guardam recordações da terra. Vêm em família, com os filhos e os netos, de enxadas e paus na mão para evitar as silvas, e com muitas histórias para contar aos mais novos. Este ano depararam-se com uma surpresa: o antigo caminho em terra batida de acesso aldeia, de uns três quilómetros, foi alcatroado. José Morgado, que na infância passava as férias grandes em casa dos avós paternos nesta aldeia do concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, vive em Lisboa e até chegou a comprar um jipe só para poder visitar o Colmeal nas suas curtas estadias em Cinco Vilas. Agora que a estrada está alcatroada pondera vendê-lo. Diz que são as saudades que o fazem regressar todos os anos. «A estrada ficou óptima», avalia, ao recordar que há três anos foi impedido pelas muitas silvas de chegar à terra de carro. Conhece bem o vale onde se situa a aldeia e recorda-se das famílias que aqui moravam em regime de foro, num total de 13 à data do despejo.

José Morgado é natural de Cinco Vilas, para onde os pais foram morar ainda antes dos acontecimentos de 1957, mas os dois irmãos nasceram no Colmeal. «Ali naquela casa grande, que era do caseiro, já que o meu avô na altura era caseiro», indica, enquanto aponta para um edifício que hoje está em ruína, tal como todas os outros, bem como a igreja e o antigo solar onde terá vivido a mãe de Pedro Álvares Cabral. José Morgado diz ter «pena» de ver a terra do pai assim, «votada ao abandono», salientando que está no Colmeal parte das «recordações dos nossos velhotes». «Algumas casas já estão destruídas», lamenta, por seu turno, Álvaro Alves, que viveu no Colmeal até aos 13 anos. Ao seu lado tem dois netos. Partiu para Moçambique em 1956, um ano antes daquela manhã de Julho em que uma força de 25 praças e três oficiais da GNR irrompeu pela aldeia para cumprir um mandato de despejo contra as famílias.

Tudo porque o feitor subarrendatário não pagava a renda àquela que era, de acordo com uma escritura de 1912, a legítima proprietária dos terrenos dos herdeiros do conde de Belmonte. Já a irmã de Álvaro Alves, Alda, estava na escola numa aldeia vizinha quando tudo se deu. Mas ainda se recorda da azáfama dos pais, que, ajudados por amigos e familiares, «andaram durante a noite a carregar o cereal e as batatas» para os montes. Os moradores tinham sido avisados do despejo. Foi directamente da escola para a Freixeda do Torrão, onde os pais acabaram por fixar residência. «Gosto muito de aqui vir, de mostrar o Colmeal aos meus netos e aos meus filhos. Tenho muitas saudades disto porque fui aqui criada, embora a terra fosse um atraso de vida», refere esta ex-moradora, ao informar que está sepultada na aldeia uma bisavó, que morreu aos 110 anos.

«Esse mato que se vê era tudo cultivado», recorda Álvaro Alves, apontando para os montes que ladeiam a aldeia. «Era tudo lavrado e não só pelo povo daqui, mas também por gente da Penha, Milheiro e Bizarril», acrescenta. «Uma fartura», garante o antigo habitante da aldeia. A história do despejo marcou a família, principalmente a mãe, falecida no ano passado, que «sofria muito», lamenta a irmã de Álvaro Alves. «Há pessoas que ainda hoje não conseguem cá vir», acrescenta, por sua vez, um outro elemento do grupo.

A Assembleia Municipal de Figueira de Castelo Rodrigo decidiu em Maio deste ano criar um grupo de trabalho para averiguar o potencial turístico do Colmeal.

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