Escrevo este manifesto em nome da mais profunda solidariedade com o professor João Lobo Antunes. O governo de Sócrates fingiu que ia nomear o professor para a Comissão Nacional de Ética para as Ciências da Vida e na última hora esqueceu-se do seu nome, já não dando tempo para que o parlamento indicasse a sua nomeação.
No fundo, isto não é nada que um adolescente de beleza menos ortodoxa – por exemplo, caixa de óculos e cabelo à cantoneiro – não tenha sentido no seu tempo de rapaz. Promessas de convites para festas e idas ao cinema, muitas. Festas verdadeiras ou filmes com companhia, chegam os dedos de uma mão dos Simpsons para as contar.
O professor Lobo Antunes fez, inadvertidamente, o papel do rapaz do clube de xadrez que serve para o rapaz mais atlético se aproximar da miúda mais gira. Nos filmes de John Hughes, falecido a semana passada, o miúdo totó levava quase sempre a melhor. Essa Comissão Nacional é como as meninas de cor de rosa dos filmes, filha do pai despeitado Sócrates.
O pai não queria o miúdo esperto nas festas da filha e acenou-lhe com um convite que se esqueceu de mandar. Professor Lobo Antunes, sabemos que vai fazer falta na Comissão, como sabemos hoje que um certo adolescente fez falta nas festas de garagem coimbrãs em 1987 e 88. Ou pelo menos sabemos a falta que as festas fizeram ao tal adolescente.
Relembro as histórias contadas no cinema por John Hughes. Além de belos filmes de adolescentes em que o anti-herói é o nosso verdadeiro herói, também escreveu argumentos para Diogo Morgado se inspirar plagiasticamente. O professor Lobo Antunes é o nosso Anthony Michael Hall. A nossa Molly Ringwald, de quem os pais se esqueceram do 16º aniversário.
Está o leitor a pensar – o que é um acto louvável – que este manifesto não faz nenhum sentido? As decisões do governo e as parvas da minha escola também não. E no entanto não há maneira de escapar a umas e a outras.
Professor, tem consigo todos aqueles que um dia foram adolescentes enjeitados. Todos juntos havemos de conseguir. Nem que seja levar uma nega ainda mais estrondosa.
Por: Nuno Amaral Jerónimo