Quem conhece os meus trabalhos já publicados sabe que o Cabeço das Fráguas, aí incluída a inscrição lusibérica da Laje da Moira, tem feito parte das minhas preocupações de há mais de 15 anos a esta parte, enquanto cidadão comum e amante da história. De facto, a inscrição das Fráguas esteve na base e na origem da publicação do meu primeiro livro, Os Cabeços das Maias, em 1995, onde, para ela, faço uma proposta de leitura a pág.s 104 e seguintes, em paralelo com a de Lamas de Moledo (Castro Daire); volto a fazer-lhe referência, pelo menos uma vez, em O País das Pedras, nas páginas 245 e 246, a propósito do “Ateísmo Lusitano” (2001); também em A Guarda no Caminho do Estremo, páginas 154 e 155, a propósito do “Português dialectal da Xalma” (2005); ainda, e muito recentemente, no Blog, narotadaspedras.blogspot.com, volto a escrever sobre o assunto no capítulo: “O Cabeço das Fráguas – Monte de Vénus” (9/6/09). As Fráguas têm sido para mim, como se vê, ao longo destes anos, uma preocupação constante para não dizer uma quase obsessão.
Por isso, nessa medida, não posso deixar de me regozijar e felicitar os autores das iniciativas perante as notícias que vieram a público em 30/7/09 no Jornal “O Interior” e no Jornal “A Guarda”. Parabéns a todos os intervenientes, nomeadamente ao Museu da Guarda! Pela divulgação que bem tardava! Pela transferência e “transliteração” dos caracteres da Laje da Moira para o Museu da Guarda! Pelos trabalhos de pesquisa, sondagem e recolha de dados!
Em todo este contexto, não posso, no entanto, deixar de acrescentar: os trabalhos de sondagem e pesquisa, “in loco”, são muito importantes, sem dúvida, mas não são nem podem ser únicos! Para o efeito, para este efeito, a análise do vocabulário popular da região, das alcunhas, da toponímia, das lendas, da fenomenologia lítica e da sua relação intrínseca e directa com os nomes dos lugares onde se situa…são igualmente importantes para não dizer decisivos, penso. Foi, aliás, com base neste método, e nos elementos assim recolhidos, que me foi possível criar o contexto semântico alargado que emerge, sobretudo, dos Cabeços das Maias e do País das Pedras em que necessariamente se insere a inscrição das Fráguas; mas também, a Cornusela, o Monte de Vénus, o Tirano da Rua, a Lenda das Três Irmãs, etc, etc, etc. Donde a proposta de leitura apresentada por mim não poder ser analisada fora deste contexto.
Um pequeno(?) reparo, todavia, às Notícias de 30/7/09. A crer no que escreve o Dr. Adriano Vasco Rodrigues em “Inscrição Tipo «Porcom» e Aras Anepígrafes do Cabeço das Fráguas (Guarda)”, Coimbra, 1959, página 72, e ainda segundo o próprio General João de Almeida, em “Roteiro dos Monumentos de Arquitectura Militar do Concelho da Guarda”, 2-ª Edição, Editorial Império, L.da, Lisboa, 1943, página 50, o pioneirismo do achado da Inscrição das Fráguas e a autoria da primeira “transliteração” dos caracteres vai para o então capitão Pina Tormenta. Diz Adriano Vasco Rodrigues: “…Verifiquei depois que já havia uma outra cópia da inscrição feita pelo Sr. Brigadeiro Pina Tormenta, quando capitão, citada pelo General João de Almeida”. Também, na obra citada do General João de Almeida, a legenda da inscrição, página 50, não deixa dúvidas: “Inscrição existente numa rocha no Cabeço das Fráguas – Cópia do Capitão Pina Tormenta”
O facto de o conhecidíssimo brigadeiro Pina Tormenta ser do Monte Novo, a um ou dois quilómetros das Fráguas, e de ser, ao tempo, dono da quinta, que viria a ficar conhecida por Quinta do Brigadeiro, e hoje propriedade do Sr. Manuel Ambrósio, entre as Lameiras de Cima e a encosta nascente do Cabeço, talvez possa ter a ver…
Para finalizar, penso que a Verdade, aí incluída a verdade histórica, se faz por acrescentos. E eu penso, muito sinceramente, que o meu trabalho talvez deva ser considerado como tal.
Célio Rolinho Pires (Guarda)